A profusão de edições ‘budget’ muitas vezes invade as discografias de artistas e bandas já com algum tempo de vida, diluindo entre uma série alargada de títulos o que são “de facto” os lançamentos oficiais encarados como ‘best of’. E na verdade, apesar dos já 47 anos de vida e de uma multidão de compilações editadas – entre as quais “Original Gold” (1999), “The Collection” (1999), “The Essential Collection” (1999), “Girls On Film – The Collection” (2000), “10 Great Songs” (2011), “Greatest Hits on CD & DVD” (2011) ou “The Biggest and The Best” (2012) – o volume de ‘best of’ que integram a discografia canónica dos Duran Duran é claramente mais reduzido. É certo que no departamento do coleccionismo, os títulos mais disputados são edições promocionais como “Conoce a Duran Duran” (México, 1984), “Duran Duran Story”v (Japão, 1986), “La Dolce Vita” (Itália, 1986) ou “The Tour Sampler” (EUA, 1993). Mas, olhando para obra do grupo, na hora de identificar lançamentos globais capazes de figurar numa discografia canónica encontramos as duas caixas de CD singles editadas entre 2003 e 2004 e a compilação de remisturas “Strange Behaviour” (1998). E depois, num plano que justifica estarem identificados num plano semelhante ao dos álbuns de estúdio e discos ao vivo, apenas dois discos. E este estatuto deve-se não às qualidades do alinhamento, mas sim ao cuidado na sua criação (ou seja, a capa e eventual criação de singles que amplifiquem a comunicação do lançamento) e, depois, a sua natural performance no mercado.

O primeiro desta dupla surgiu em 1989, a fechar a primeira década de vida discográfica, envolvendo uma capa criada por Stephen Sprouse (um dos grandes designers de então, voz de um encontro entre a cultura punk e pop com um novo patamar de sofisticação). Para acompanhar o lançamento de “Decade” foi criado o single “Burning The Ground” (1989), uma colagem de memórias dos êxitos dos Duran Duran que estranhamente acabou fora do próprio alinhamento do ‘best of’ (sendo apenas recuperado na caixa “The Singles 1986 – 1995” de 2004). O álbum, que foi disco de platina tanto no Reino Unido e EUA, e no Brasil conheceu um alinhamento com um detalhe diferente, juntando “A Matter Of Feeling” ao lado B, no lugar de “All She Wants Is” das restantes edições internacionais. 

Nove anos depois, e num momento difícil da vida do grupo, um outro ‘best of’ entrou em cena conquistando atenções ainda mais visíveis, superando em vendas e visibilidade o impacte de “Decade”. Vale a pena juntar dados de contexto. É que um ano antes tinha sido editado, sob visibilidade reduzida, o álbum “Medazzaland”, que na verdade só tinha conhecido lançamento no Japão, EUA e Canadá, uma vez que a editora que então os representava não só tinha recusado fazer o lançamento como acabou mesmo por os deixar sem contrato, sendo que no decurso da gravação do disco o baixista John Taylor tinha anunciado que se ia afastar do grupo. Dois anos depois estariam (por um álbum apenas) na Hollywood Records. E na alvorada do novo milénio a reunião da formação histórica que lhes dera os maiores êxitos entre 1981 e 85 dava-lhes novo ânimo, abrindo para os Duran Duran uma vida de novas glórias no século XXI. A EMI, que os tinha editado entre 1981 e 1995, apresentou então “Greatest”, um ‘best of’ de capa elegante e minimalista (que em alguns territórios e edições incluiu citações ao teledisco de “Rio” no lettering). O alinhamento correu pelos álbuns todos já editados salvo “Thank You” (de 1995), selecionando de cada título as canções de maior impacte. Do álbum de estreia, sem surpresa, “Planet Earth” (1981) e “Girls On Film” (1981). Do mítico “Rio”, além da canção título (na versão US edit, de 1982), estão ali “Hungry Like The Wolf” (1982) e “Save a Prayer” (1982). De “Seven and The Ragged Tiger” não ficou nenhum single de fora (ou seja, estão representados “Union Of The Snake” (1983), “New Moon On Monday” (1984) e “The Reflex” (1984). De “Arena”, disco ao vivo, era recuperada a faixa de estúdio “The Wild Boys” (1984). De Notorious” eram escolhidos “Notorious” (1986) e “Skin Trade” (1987). O seguinte “Big Thing” era revistado através de “I Don’t Want Your Love” (1988) e “All She Wants Is” (1988). De “Liberty” era evocado o mais discreto (mas bem escolhido) “Serious” (1990), em vez do single que tinha lançado o álbum. Do disco que ficou conhecido como “Wedding Álbum” foram convocados, sem surpresa, “Ordinary World” (1993) e “Come Undone” (1993). E do recente e então quase invisível “Medazzaland” era recuperado “Electric Barbarella”, que acabou por ser usado (numa reedição) como single de apresentação do próprio ‘bem of’. Naturalmente não faltaram no alinhamento os dois singles que o grupo tinha editado sem álbum associado, ou seja, “Is There Something I Should Know?” (1983) e “A View To a Kill” (1985). Ou seja, feitas as contas a 17 anos de discos editados até então, de fora (da lista de lançamentos com expressão global) ficaram “Careless Memories” (1981), “My Own Way” (1981), “Meet El Presidente” (1987), “Do You Believe In Shame?” (1989), “Burning The Ground” (1989), “Violence of Summer (Love’s Taking Over)” (1990), “Too Much Information” (1993), “Perfect Day” (1995), “White Lines (Don’t Do it)” (1995) e “Out Of My Mind” (1997). 

Lançado em novembro de 1988 “Greatest” teve então lançamento em CD e conheceu uma declinação (com os respetivos telediscos) para DVD. Agora, 27 anos depois, este ‘best of’ tem lançamento num suporte de vinil duplo, acrescentando assim mais um título à representação da discografia do grupo neste suporte, seguindo-se assim à recente edição em vinil de “Pop Trash”, que completou a presença neste formato da totalidade dos títulos de estúdio. Não era contudo má ideia uma edição mais “completa” semelhante à da caixa “Smash” dos Pet Shop Boys, recuperando a obra a 45 rotações sem deixar nada de fora…

“Greatest”, dos Duran Duran, está disponível numa reedição em 2LP pela Parlophone

Uma resposta a “Duran Duran “Greatest””

  1. Não se pode perdoar a falta de “Careless Memories” e “My Own Way” que são dos primeiros singles do grupo. Já deveriam ter ultrapassado o trauma!

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