Depois de um primeiro ciclo de vida algo discreto (mas afinal mais marcante do que inicialmente imaginando), os Ultravox encontraram um novo ímpeto a partir de 1980, agora com Midge Ure como vocalista e importante força criativa. Da etapa anterior, com John Foxx nesse mesmo lugar, tinham migrado para a fronteira dos oitentas ecos de uma nova forma de associar as emergentes electrónicas às linguagens pop/rock de uma banda elétrica. Com a nova formação estreada discograficamente com o single “Sleepwalk” e reforçada logo depois com o álbum “Vienna” os Ultravox levaram a um patamar de maior visibilidade ideias na verdade já antes ensaiadas entre “HaHaHa” e “Systems of Romance”, ambos de 1978. Contudo, num contexto mais favorável (em plena euforia new romantic), com um novo investimento na imagem (do grafismo das capas aos telediscos) e, acima de tudo, com um sólido corpo de canções e a presença na cadeira de produtor de Conny Plank (com créditos firmados no krautock e que já estava ligado ao grupo desde o álbum anterior), “Vienna” colocou o grupo no mapa, cabendo ao seguinte “Rage In Eden” (1981), novamente com o mesmo parceiro alemão em estúdio, a solidificação de um estatuto que, depois, conheceria uma derivação algo mais “classicista” em Quartet (1982), álbum criado na companhia de George Martin.
Foi com este trio de álbuns em mãos e uma digressão de grande impacte cuja memória ficou fixada no álbum ao vivo “Monument” (1983), que os Ultravox entraram no estúdio entretanto montado pelo próprio Midge Ure para criar um novo álbum. Marcado por um clima de ansiedade que atravessava os ares dos tempos da geopolítica de então, mas também por ecos de conflitos interiores, que acabariam por marcar canções como “Dancing With Tears In My Eyes” e “White China” (num plano global) ou o próprio tema título, “Lament” ou “A Friend I Call Desire” (numa dimensão mais pessoal). Ao mesmo tempo uma expressão de busca de identidade feita sobre pistas remotas, piscando o olho a heranças celtas e que regressariam mais adiante em “U-Vox” (em “All Fall Down”) ou na obra a solo de Midge Ure, emerge em “Man Of Two Worlds”, uma entre as várias canções de um álbum que acentua ainda mais o labor cenográfico dos arranjos e da própria produção, assinada desta vez pelos próprios Ultravox. Este seria o último álbum desta etapa na vida do grupo que com esta formação, gravaria ainda o single “Love’s Great Adventure” em 1985, canção desenhada num clima bem mais luminoso do que o que “Lament” retratou. O grupo conheceu outras formações e alguns hiatos até que, já no século XXI, os quatro desta etapa (Midge Ure, Billy Currie, Chris Cross e Warren Caan) se voltaram a a reunir.

Agora, e na sequência de edições alargadas dedicadas aos álbuns editados entre 1980 e 1982, “Lament” conhece um tratamento semelhante, surgindo numa caixa com uma multidão de extras onde, além da (já habitual) visão do álbum numa nova remistura de Steve Wilson, encontramos os lados B da época assim como as muitas remisturas que então surgiram em máxis, algumas remisturas inéditas e a gravação (inédita) de um concerto, captada no então Hammersmith Odeon (Londres) em 1984. A caixa espalha estes conteúdos por 7 CD e um DVD áudio.
“Lament – DeLuxe Edition”, dos Ultravox, está disponível numa versão para 7CD + DVD Áudio, num lançamento da Chrysalis.





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