Uma das maiores surpresas de 2025 nasce na confluência de caminhos e referências. Natural de Montreal (Canadá), Jessica Hébert começou estudar música aos seis anos. Teve o violino como primeiro instrumento, mais tarde juntando possibilidades de manipulação dos sons às suas rotas de exploração, ora através de pedais ora usando loops. Mergulhou mais profundamente pelos trilhos da composição já na universidade, começando a descobrir uma voz criativa própria no formato da canção, aliando um velho parceiro (o violino) ao piano que então foi ganhando terreno na sua música. Agora, sob o pseudónimo Ambre Ciel, podemos descobrir onde esta etapa inicial do seu percurso a levou num álbum de estreia que representa uma das mais belas surpresas de 2025.

Numa encruzilhada de caminhos, que traduz ecos de eventual proximidade de compositores que fizeram escola no século XX e um percurso pessoal que certamente foi desbravando terreno entre alguns dos seus contemporâneos em terreno indie (é confessa admiradora de Sufjan Stevens e Agnes Obel), Ambre Ciel propõe em “Still, There Is The Sea” um álbum de arrebatadora tranquilidade e beleza. A palavra “cinematográfico”, certamente gasta de tantas vezes usada, na verdade faz aqui sentido no sentido em que sugere noções de espaço e atmosfera que de facto brotam entre as canções e instrumentais. A voz, que ora canta em inglês ora em francês e que raras vezes ultrapassa o sussurro, as melodias que abrem frestas de uma luz fresca, os arranjos que contam com a colaboração de Owen Pallett e que cruzam cordas, sopros e piano, são peças delicadas na construção de um conjunto de canções que garantem a Ambre Ciel um cartão de visita que pode cativar atenções em várias frentes. 

Expressões como ambient pop ou “neoclássica” (e desta última ainda não sei traduz noções de elogio ou ceticismo), foram já usadas para ensaiar rótulos para encaminhar este disco. Poética, discreta, marulhante, a música de Ambre Ciel é ainda um relativo segredo a descobrir (estatuto que a pequena label a que está associada de certa forma lhe garante por enquanto). Resta saber por quanto tempo este relativo segredo se manterá neste patamar. 

“Still, There Is The Sea”, de Ambre Ciel, está disponível em LP, CD e nas plataformas de streaming, numa edição da Gondwana Records

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Trending