Quando a cassete VHS esteve ao serviço da música

A edição dos primeiros vídeo-álbuns em finais dos anos 70 abriu uma nova frente de possibilidades para a indústria da música: as edições em vídeo. Apesar da existência de mais suportes, a cassete VHS foi aqui a que mais edições conheceu. Texto: Nuno Galopim

A afirmação do vídeo como importante instrumento promocional a favor de lançamentos discográficos alavancou, ainda antes da criação da MTV (em 1981) um novo espaço de criação. Os telediscos começaram a surgir com maior regularidade, acabando por praticamente acompanhar todos os lançamentos de novos singles. E cedo houve quem imaginasse o passo seguinte: e que tal criar também lançamentos em cassete vídeo que, tal como os discos em vinil e as cassetes áudio, se tornassem mais um formato ao serviço da indústria da música gravada. Assim foi e, em 1979, um dos primeiros vídeo-álbuns a chegar aos escaparates foi uma cassete com telediscos (assinados por David Mallett) para as canções do álbum Eat to the Beat dos Blondie. Poucos anos depois Olivia Newton John via uma ideia semelhante criada para as canções de Physical a merecer distinção numa noite de Grammys. E, sem surpresa, em 1983, um dos primeiros grandes fenómenos da era do home video musical nasceu da reunião de telediscos que os Duran Duran juntaram então numa mesma cassete.

            Desde cedo ficou claro que, tal como em tempos acontecera com os formatos de música gravada, também entre os suportes de vídeo haveria uma “batalha” a ganhar forma. Independentemente dos sistemas de cor adotados nos mais diversos territórios (PAL, NTSC, SECAM…), as cassetes Betamax e VHS surgiram logo de início como opções partilhadas para vários lançamentos, abrindo alguns países (como a França ou o Japão) espaço igualmente importante para o laserdisc.

            A primeira década de 80 assistiu a um progressivo aumento de apostas editoriais nos formatos de home video, surgindo frequentemente lançamentos de gravações de atuações ao vivo que nem sequer tinham equivalente discográfico. Em pouco tempo a multiplicação das edições em vários formatos apontou a um claro vencedor: a cassete VHS. Surgida no Japão em 1976, acabou a dominar a oferta de home video à escala global em meados dos anos 80, tanto nos mercados de aluguer de filmes como no de venda de cassetes pré-gravadas. O avento do DVD, na segunda metade dos anos 80, mais tarde o Blu-Ray e, recentemente, a oferta em streaming, afastou a cassete VHS das opções de oferta de mercado.

A diferente velocidade com que a transição para os formatos digitais foi ocorrendo em vários pontos do globo, fez com que o “fim” da era do VHS não fosse abrupto, mas antes gradual. Apesar do desaparecimento do formato das opções para novos lançamentos ter ocorrido na primeira década do século, os últimos tempos estão a assistir ao surgimento de um circuito de nostalgia e colecionismo ligado à velha cassete VHS. Há várias lojas digitais (muitas delas representadas em plataformas como o eBay) e aqui e ali surgem por vezes focos de resistência em lojas físicas que, tal como a pequena aldeia dos gauleses, mantém vivo um espaço que assim não desaparece do mapa.

O aparecimento do DVD fez com que, tal como sucedera com o CD, muitos títulos lançados em suporte de cassete surgissem com novas edições na era digital. Contudo, são vários os lançamentos em VHS (alguns também em Betamax) que nunca tiveram edição em DVD ou Blu-Ray. Aqui ficam alguns exemplos:

Blondie “Eat To The Beat”

(1980)

Vídeo álbum com telediscos para todas as canções originalmente incluídas no álbum Eat to The Beat, que os Blondie lançaram em 1979. Todos os telediscos foram realizados por David Mallet.

Duran Duran “Duran Duran”

(1983)

Uma compilação dos primeiros telediscos dos Duran Duran. A cassete inclui os telediscos de todos os singles entre Planet Earth (1981) e Is There Something I Should Know? (1983), juntando ainda outros criados para Nightboat, The Chauffeur e Lonely In Your Nightmare. Alguns dos telediscos aqui apresentados ainda não surgiram em DVD ou Blu-Ray.

Culture Club “A Kiss Across The Ocean”

(1984)

Gravação de um concerto ao vivo realizado no londrino Hammersmith Odeon. O alinhamento inclui canções dos dois primeiros álbuns dos Culture Club e traduz assim um retrato do seu momento de maior inspiração e popularidade. Esta gravação não teve expressão em disco senão em Melting Pot, canção que surgiu como lado B em 1984.

David Bowie “Jazzin For Blue Jean”

(1984)

A versão longa do teledisco de Blue Jean, realizado por Julien Temple, e no qual David Bowie interpreta dois papéis, é a peça central deste Vídeo EP que inclui ainda os temas Warsaw e Don’t Look Down. O tempo de duração total desta cassete é de apenas 21 minutos.

Depeche Mode “The World We Live In and Live in Hamburg”

(1985)

A primeira edição em video dos Depeche Mode foi também a primeira edição da gravação de um concerto ao vivo (apesar de antes o grupo ter já usado gravações live em lançamentos em 45 rotações). O concerto foi gravado a 14 de dezembro de 1984 no Alsterdorfer Sporthalle, em Hamburgo.

David Sylvian “Steel Cathedrals”
(1985)

Filme de autor do próprio David Sylvian e Yasayuki Yamaguchi, rodado em Tóquio, é acompanhado por uma banda sonora que ele mesmo criou e gravou (e que surgiu no alinhamento do álbum instrumental Alchemy: An Index of Possibilities, originalmente apenas disponível em cassete).

Wham! “Wham! In China – Foreign Skies”

(1986)

Apesar dos célebres concertos de Jean Michel Jarre em 1981, a digressão dos Wham! representou a primeira operação do género de uma banda pop ocidental. O alinhamento corre entre temas dos álbuns Fantastic e Make it Big e junta uma versão de Runaway, de Del Shanon. O filme nunca teve edição em DVD nem esta gravação surgiu em disco.

Jean Michel Jarre “The China Concerts”

(1989)

Documentário rodado em 1981, transmitido originalmente em várias estações de televisão (entre nós a RTP), conheceu finalmente edição em video em 1989. O filme é não só um ‘making of’ destes concertos, como inclui imagens de algumas atuações ao vivo em Pequim e Xangai.

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