46. Procol Harum “Grand Hotel” (1973)

Este é o número 45 da lista “100 Discos Daqueles que Raramente Aparecem nas Listas”… Foi editado em 1973 e reflete a busca dos Procol Harum pot uma dimensão cenicamente mais complexa para a canção pop num álbum que envolve orquestra e coro. Texto: Nuno Galopim

Quando se fala na emergência de um som rock “progressivo” ou de uma dimensão barroca em canções nascidas em clima pop/rock é natural que o nome dos Procol Harum seja (justamente) citado. É verdade que nenhuma canção do grupo ultrapassou o patamar de visibilidade global de A Whiter Shade of Pale que o grupo britânico lançou como single de estreia em 1967. Mas a sua discografia não se limitou a criar espaços em volta desse êxito inicial e foi avançando, sobretudo nos anos 70, rumo a desafios no plano estético e concetual que, mesmo sem levar a música do grupo às dimensões exploradas por nomes como uns Van der Graaf Generator, Pink Floyd, King Crimson ou Genesis (fase Peter Gabriel), merece ser evocada quando se cria um retrato de uma visão cenicamente mais desafiante que a canção pop/rock então procurou e à qual a maior simplicidade e sentido de urgência da revolução punk surgiu como resposta pouco tempo depois.

         Grand Hotel foi editado em 1973, num período de transição dentro da própria história de vida dos Procol Harum. A instabilidade na própria formação é uma característica de um tempo em que até o guitarrista que se tinha recentemente juntado ao grupo para cumprir uma agenda de estrada (fixada depois num disco ao vivo) acabou por sair já depois de tirada a foto para a capa do álbum, forçando a equipa gráfica a colocar depois ali, no seu lugar, uma imagem do seu substituto. O elegante tema, de visão sinfonista, que abre o alinhamento (e que dá título ao disco) parece sublinhar a ideia de um primeiro capítulo de uma narrativa concetual que supostamente abarcaria o álbum. Mas, anos depois, o próprio letrista Keith Reid confessou que o “conceito” na verdade se esgotava na própria canção. Contudo, são as qualidades da composição, a elegância menos elétrica da instrumentação, a dimensão cénica da música (sobretudo vincada nos momentos corais) e uma lógica de produção atenta à grandiosidade da escala dos acontecimentos musicais aqui lançados que na verdade acabam por sugerir a eventual ideia de estarmos perante uma criação “concetual” que agrega todo o disco. E vale a pena lembrar aqui que a ideia de criação álbuns concetuais estava muito em voga na criação, sobretudo num tempo em que o aparecimento (com sucesso) de algumas “óperas rock” parecia sugerir a necessidade de dar sentidos de maior fôlego aos acoplamentos de canções a juntar num mesmo disco.

         A capa, as canções e o clima cénico fazem de Grand Hotel um disco que, mais até do que servir um qualquer conceito narrativo, traduz a noção de identidade que um álbum pode definir sobre um conjunto de canções. Grand Hotel está longe de ser um caso de popularidade de um álbum “prog” (há quem prefrira apontá-lo como proto-progressivo). De resto não foi acima do número 21 nos EUA e nem sequer figurou na tabela de vendas de álbuns no Reino Unido. As críticas não foram meigas, havendo entre algumas referências pouco entusiasmadas com a escala da produção. Contudo, entre os discos cenicamente mais elaborados daquele tempo, Grand Hotel talvez seja um dos exemplos com melhor resistência à passagem do tempo… Escutem-se os álbuns cenicamente mais trabalhados de uns Divine Comedy e reconheça-se aqui uma “escola” que, se calhar, merecia melhor reconhecimento. E da canção-tema a TV Cesar, de Robert’s Box ao mais bem humorado Souvenir of London, não faltam aqui bons momentos para fazer deste disco um eventual episódio de boa (re)descoberta do rock mais teatral dos anos 70.

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