Através de Uhura teve um papel importante na história representação de personagens negras na televisão. Mas também cantou e editou discos. Nichelle Nichols deixou-nos este sábado, aos 89 anos. Texto: Nuno Galopim

Em 1967, perto do final da primeira temporada de Star Trek, Nichelle Nichols recebeu uma proposta para assumir um papel numa produção na Broadway. Estava decidida a deixar a série de ficção científica e chegou mesmo a entregar ao seu criador, Gene Roddenberry, um pedido para se afastar. Nesse mesmo fim de semana, num evento público, recebeu a visita de um fã… Chamaram-na, avisaram que o fã gostava de a conhecer… Era nada mais nada menos do que o reverendo Martin Luther King que lhe explicou que Star Trek era a série que via em família, pedindo-lhe para que não abandonasse o papel da tenente Uhura, já que correspondia a uma forma de representação bem diferente da habitualmente destinada a atores negros. Uhura, como ela mesmo recordaria, citando as palavras de Martin Luther King, mostrava pela primeira vez na televisão americana uma personagem negra que traduzia sinais de “inteligência, qualidade, beleza” mostrando características de quaisquer pessoas que “podem cantar e dançar, mas também ir ao espaço, ser professores ou advogados”. Nichelle Nichols aceitou a sugestão e manteve-se a bordo, vincando nas suas restantes temporadas a sua dedicação à figura da oficial de comunicações da nave Enterprise que, entre vários instantes, protagonizou o momento de um beijo com o ator branco William Shatner, que vestia a pele do capitão Kirk. Esse corresponde a outro dos factos pelos quais o papel de Uhura seria tão marcante para a representação de personagens negras na história da ficção televisiva, correspondendo de resto a uma visão de diversidade que Gene Rodenberruy procurou quando pensou as características da tripulação de uma nave do futuro. E é claro que, tantos anos depois, ninguém deixou passar despercebida a notícia do seu desaparecimento, este sábado, com 89 anos.
É inevitável falar de Uhura quando se fala da atriz Nichelle Nichols. Das três temporadas da série original e dos seis filmes em cujo elenco participou, sem esquecer a voz que deu à série animada (nos anos 70), Nichelle Nichols viveu em pleno a expressão pública da força que a personagem de Uhura colocou na memória coletiva. Tanto que, a dada altura, a NASA chamou-a para colaborar com a agência, tendo sido uma importante força de comunicação num processo que visou o recrutamento de profissionais de diversas minorias étnicas.
Nascida no Illinois em dezembro de 1932 começou a sua carreira com a música por perto, participando em 1961 em Kicks & Co., um musical. Seguiram-se outras produções em palco, entre os quais um Porgy & Bess (tendo depois colaborado, como dançarina, na adaptação ao cinema, por Otto Preminger). Teve um papel de algum destaque numa produção tardia dos filmes de Tarzan e, de facto, foi em com Star Trek (na televisão) que conquistou atenções com um papel que marcaria toda a sua vida.
À música regressou várias vezes, tendo gravado alguns discos, entre os quais o álbum Down To Earth, editado em 1967. Depois de singles como Dark Side of The Moon (1974) ou Beyond Antares / Uhura’s Theme (1976), já marcados pelo impacte personagem da oficial de comunicações da Enterprise, editou o álbum Uhura Sings (1986), surgindo depois, em 1991, a antologia Out of This World, editada num CD que inclui uma entrevista com a atriz e cantora.
