Duran Duran “Red Carpet Massacre”

Editado em novembro de 2007, o álbum “Red Carpet Massacre” é bem mais do que o disco no qual os Duran Duran trabalharam com Timbaland e Timberlake. O álbum abriu uma etapa de grande vitalidade criativa para o grupo e é reeditado em vinil e CD. Texto: Nuno Galopim

O impacte causado pela reunião, em 2001 da formação clássica dos Duran Duran fez de Astronaut o disco mediaticamente mais bem sucedido do grupo em dez anos e, da digressão que se seguiu, um caso de sucesso reencontrado. Cabe, de resto, ao efeito deste reencontro em palco com vários públicos de diversas geografias (como a portuguesa, que não via a banda desde 1982), o estabelecer de uma nova etapa de vitalidade que faria do grupo uma força de palco como nunca antes o tinha sido, aprofundando aí as fundações para um fulgor reencontrado que ainda hoje dá evidentes resultados.

Era preciso não esperar muito tempo para dar novo passo e, em finais de 2005, terminada a extensa digressão, estavam novamente na sala de ensaio, juntando um novo corpo de canções na companhia do produtor Michael Patterson, registando então uma série de sessões entre a Califórnia e Londres. Com um corpo considerável de canções já gravadas e o nome Reportage como título de trabalho, o grupo terá então apresentado o disco (num estado ainda inacabado) à editora que não só apontou a falta de um single evidente, como reagiu aos caminhos mais rock que o disco queria seguir… Segundo descrições em várias entrevistas sabemos hoje que Reportage teria sido um álbum mais próximo das raízes new wave dos Duran Duran, com letras de mais vincado teor político. Sobre se, algum dia, este disco verá a luz do dia, em conversas comigo nestes últimos anos, tanto o baixista John Taylor como o teclista Nick Rhodes encararam a eventualidade de uma edição. John Taylor deixou no ar algum ceticismo ao lembrar que, se foi abandonado, é porque houve motivos para que assim a coisa acontecesse e deu a entender que se trata de um disco inacabado e que, a surgir numa eventual edição, a coisa possa talvez apenas no futuro, possivelmente quando os Duran Duran não forem mais uma força criativa ativa. Num sentido oposto, Nick Rhodes sempre foi mais entusiasta quanto a uma eventual edição de Reportage.

Foi da editora a sugestão de haver no novo álbum alguma maior presença pop… E a escolha do grupo sobre alguém com quem trabalhar apontou a Timbalan, produtor que admiravam e com quem se juntaram em primeiras sessões de trabalho das quais surgiram logo as canções Skin Divers, Zooming In e Nite Runner, esta última nascendo de uma colaboração com Justin Timberlake. Do projeto inicial para juntar estas canções às de Reportage avançaram entretanto para uma mais profunda ligação a estes caminhos pop entretanto abertos, projetando novas sessões com Nate “Danja” Hills, um colaborador habitual de Timbaland. Ao mesmo tempo, e de uma aparente insatisfação com o rumo que os trabalhos estavam a tomar, o guitarrista Andy Taylor voltava a anunciar a sua saída do grupo. Os cinco passavam a ser quatro.

Todo o álbum nasceria então das sessões que se seguiram, vincando uma clara ligação a uma sonoridade que associamos a heranças diretas do hip hop e derivações do funk que, na verdade, são até longe de ser realidade alienígena na obra dos Duran Duran, bastando evocar caminhos ensaiados em Notorious ou em versões dos Public Enemy ou Grand Master Melle Mel apresentadas em Thank You para notar que esta era já uma genética há muito assimilada na alma do grupo.

O disco concilia na verdade essa abordagem com mais evidentes marcas de ligação aos produtores e a Timberlake em canções como as que nasceram dessas sessões mas também em temas como Tempted, dialogando com heranças pop dos próprios Duran Duran em Zoom In, Last Man Standing ou She’s Too Much. A alma new wave mais clássica da banda escuta-se, por exemplo, no belíssimo instrumental Tricked Out, o melhor tema não vocal que o grupo assinava desde Tiger Tiger. A alma clássica dos Duran Duran, na sua faceta cenicamente mais elaborada e dramática, está também vincada em canções como Dirty Great Monster ou, mais ainda, em The Valley, o grande sucessor New Religion, numa ideia de construção envolvendo partes distintas e um trabalho quase cinematográfico na criação dos ambientes. O tema-título, por outro lado, garantiu que não se encerrasse a janela de comunicação com a faceta indie que o grupo tinha respirado nos anos 90, cabendo depois a Box Full o’ Honey o papel de assegurar a grande balada de referência do alinhamento. Curiosamente a (má) escolha de single – o único oficialmente extraído – do alinhamento do álbum coube a Falling Down, um mid tempo criado em parceria com Justin Timberlake e Timbaland que revela talvez o momento do disco em que a alma dos Duran Duran surge mais ténue e tímida… Os resultados discretos que a canção alcançou como single deram razão a quem a viu como uma escolha errada.

Durante muito tempo tinha-se falado de Nite Runner como single de avanço, não só pelo viço que a canção revelava como pelo facto de ser bem representativa não só do álbum mas de toda uma ligação já histórica dos Duran Duran às referências que estão nas heranças que convoca. Curiosamente este tema teve depois maior vida de palco do que o single Falling Down. Skin Divers surgiria, entretanto, apenas como promo em alguns territórios.

Por várias razões (e não apenas o single mal escolhido) o álbum ficou aquém do esperado, acabando por levar a banda a terminar logo depois o relacionamento com a editora. Tal como sucedera com o ainda mais invisível Medazzaland, Red Carpet Massacre tornou-se no segundo grande álbum esquecido dos Duran Duran. Vendo as coisas com a distância que só o tempo pode conceder, reconhecemos que nasce ali uma etapa de trabalho entre os quatro elementos da banda e as sucessivas equipas de colaboradores chamados a cada nova gravação que, até ver, fazem da sucessão de discos lançados desde então a mais sólida (em conjunto) série consecutiva de grandes álbuns editados pelos Duran Duran. O disco teve recentemente uma reedição em CD e conhece esta semana uma nova prensagem em vinil duplo, desta vez colorido.

“Red Carpet Massacre”, dos Duran Duran, está disponível em 2LP, CD e nas plataformas digitais, numa edição Tape Modern/BMG.

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