Malcolm McLaren “Duck Rock” (1983)

Faz este ano 40 anos o lançamento do álbum “Duck Rock”, o primeiro de Malcolm McLaren, disco desafiante que deve muito da sua forma final às importantes contribuições do núcleo que pouco depois surgiria em cena sob o nome The Art of Noise. Texto: Nuno Galopim

Reduzir as contribuições de Malcolm McLaren para a história da música popular ao papel que teve como manager dos Sex Pistols é talvez a mais equívoca das formas de o lembrar. De facto foi manager dos Sex Pistols (e também de Adam Ant e, depois, dos Bow Wow Wow) e figura absolutamente central na história do punk de berço londrino (e sem ele, a história talvez hoje se contasse de uma outra maneira)… Chegou à música pelas roupas, sendo presença fulcral ao lado de Vivien Westwood em lojas que marcaram a Londres de 70 como a mítica Sex na movimentada Kings Road de então. Mas Malcolm McLaren foi mais que uma força de bastidores na história da música popular. E a sua discografia, mesmo que não muito extensa, gerou alguns títulos marcantes sobretudo nos dias de 80, vincando a diferença pela forma como sempre olhou adiante do seu tempo. Na verdade, Malcolm McLaren deu visibilidade mainstream ao vogue antes mesmo de Madonna, cruzou canções pop com árias de ópera e foi dos primeiros músicos europeus a assimilar sinais da então emergente cultura hip hop logo no seu álbum de estreia, “Duck Rock”, editado em 1983.

Malcolm McLaren tinha já apresentado música em nome próprio na banda sonora do filme “The Great Rock’N’Roll Swindle” e, inclusivamente, editado o single “You Need Hands” em 1979. Mas foi de facto com “Duck Rock” que deu os seus reais primeiros passos com sólida voz criativa como autor. Não foi contudo fácil o processo e, como o produtor Trevor Horn recentemente contou na sua autobiografia, o disco obrigou-o a um trabalho de arrumação e moldagem de ideias que nasceram dispersas e, podemos dizer, visionárias, mas na verdade só encontraram forma no moroso esforço de pós-produção que se seguiu a várias sessões de gravação.

Malcolm McLaren quis juntar peças tão diferentes como música sul-africana, sons das Caraíbas, pistas escutadas na country, arranjos de cordas e também o emergente hip hop (que antes tinha já conhecido episódios de contacto com a música pop através de singles dos Blondie ou Adam and The Ants), chamando não apenas a presença do rap mas também de técnicas de scratching. “Duck Rock” começou a ganhar forma em sessões dispersas (no tempo e no espaço) que levaram a estúdio nomes tão distintos como os do grupo sul-africano Mahlathini and the Mahotella Queens ou os DJs e rappers Sedivine the Mastermind e Just Allah the Superstar, conhecidos como a The World’s Famous Supreme Team. Tendo já colaborado consigo no álbum “The Look of Love” dos ABC, Trevor Horn chamou então a bordo Anne Dudley e J.J. Jeczalik (o embrião dos Art of Noise), tendo ambos contribuindo decisivamente para dar forma de canção às ideias que Malcolm McLaren ia lançando. O português Luís Jardim, recorrente colaborador de Trevor Horn, foi igualmente chamado a estúdio. “Duck Rock”, apesar da assinatura, deve muito a um esforço conjunto e, de certa maneira, representa um episódio de antecipação de uma forma de criar música e agitação na linha do que, logo depois, veríamos em edições da ZTT Records.

O disco, que traduz logo na capa o caráter compósito do modo como foi construído (contando a capa com a contribuição de Keith Haring através de uma ilustração), começou a ser revelado ainda em 1982 pelo single “Buffalo Girls”. A este single seguiram-se depois outros três: “Soweto” (editado em fevereiro de 1983), “Double Dutch” (junho de 1983) e “Duck for the Oyster”. Um ano depois surgiu o disco-companheiro de remisturas “D’ya Like Scratchin’?”.

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