Proibida no Brasil, inicialmente editada com letra apenas num single português, “Tanto Mar” juntou-se em 1975 ao “Fado Tropical” de 73, acrescentando assim mais um episódio da obra de Chico Buarque no qual o músico centrou atenções em Portugal. Texto: Nuno Galopim

Os ecos da revolução de abril de 1974 em Portugal chegaram de várias formas à música brasileira. Logo nesse ano, por exemplo, Nara Leão editou o single “A Senha Do Novo Portugal” no qual apresentou versões de “Grândola Vila Morena” e “Maio Maduro Maio” de José Afonso. Em 1975 Chico Buarque escreveu e gravou “Tanto Mar”, canção que diretamente estabelece uma ponte entre o ambiente político que mudara em Portugal e, como contraponto, vinca, metaforicamente, o facto de o Brasil viver ainda sob uma ditadura.

Já em 1973, no álbum “Calabar, O Elogio da Traição”, Chico Buarque tinha fixado a canção “Fado Tropical” na qual contemplava a ideia de uma eventual mudança do regime em Portugal, cantando “esta terra ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai tornar-se um imenso Portugal”. A canção, sobre a qual a censura brasileira “vestiu a carapuça”, como o próprio Chico Buarque descreveria mais tarde, fora entretanto ali proibida e, depois de 74, passava a ser encarada ainda com maior preocupação, porque “isso de o Brasil de tornar um imenso Portugal virou uma afirmativa muito subversiva e perigosa”, afirmou ele mesmo numa entrevista.

Em 1975, sublinhando o modo como o 25 de abril “mexeu muito” com as pessoas no Brasil, e nele em particular, Chico Buarque apresentou em “Tanto Mar” um olhar, à distância, sobre os ecos que lhe chegavam de um país em transformação. Proibida pela censura no Brasil, a versão original da canção no seu país de origem era apenas um instrumental gravado ao vivo no Canecão, editada em disco, em 1975, no álbum conjunto “Chico Buarque & Maria Bethânia Ao Vivo”. Ainda em 1975, contudo, a versão vocal original de “Tanto Mar” surgiu num single então editado apenas em Portugal. No Brasil a canção conhecerá finalmente edição com letra em 1978, mas aí alterada, notando as novas palavras um ceticismo do autor face ao rumo entretanto tomado pela ainda jovem história da democracia em Portugal. Esta segunda versão surgiria no álbum de 1978 “Chico Buarque”, descrita logo no inaly do disco como “Tanto Mar (2ª edição – revista)”.

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