Não era a primeira vez que um filme se cruzava com o percurso dos Duran Duran, mas “Hollywood High” correspondeu, em 2022, à primeira criação dos Duran Duran com o grande ecrã como objetivo primordial. É que, apesar de ter passado pela sala escura e, depois, conhecido edição em suportes físicos de home video, “Unstaged”, realizado por David Lynch, era na origem uma criação pensada para difusão online. Sem as salas no seu percurso, o filme “Arena – An Absurd Notion” (1984), de Russel Mulcahy, nascera diretamente para o mercado das cassetes vídeo (conhecendo depois edição em DVD). Hollywood High foi, antes de tudo um projeto pensado para ver na sala escura. E assim foi, com sessões anunciadas, limitadas, concentradas numa agenda global semelhante, e com plateias a reagir na hora, quase como se de uma atuação ao vivo se tratasse, só agora, muitos meses depois, transportando a experiência para o home video.
O filme começa com um olhar documental sobre a história do relacionamento dos Duran Duran com a cidade de Los Angeles. Ouvem-se histórias da primeira visita à cidade, o primeiro concerto, a passagem da Sing Blue Silver Tour pela América em 1984, o encontro com Warren Cuccurullo… Às memórias junta-se depois a gravação (sem truques nem extras) de uma atuação no terraço de um hotel na Vine St, com o prédio da Capitol Records (em tempos a editora do grupo nos EUA) como cenário natural. Estamos assim em terreno “clássico”, juntando os Duran Duran ao historial das atuações “rooftop” que conta com momentos históricos na célebre (e inesperada) atuação dos Beatles no telhado do edifício da editora dos fab four, em Londres, em janeiro de 1969, ou o mini-concerto que os U2 deram no terraço de uma liquor store em Los Angeles, que foi filmado, parte sendo depois usada no teledisco de”Where The Streets Have No Name” (1987).
O alinhamento valoriza sobretudo a presença do recente “Future Past”, juntando depois as memórias de “A View to a Kill”, “Notorious”, “Come Undone”, “Pressure Off”, “White Lines (Don’t Do It)”, “Hungry Like The Wolf” e “Ordinary World”, esta última com as cores da bandeira ucraniana a iluminar o edifício da Capitol, naquela que representou uma entre as raras manifestações de alma política reveladas ao longo de todo o percurso da banda.

Sem o habitual aparato vídeo, sem convidados especiais e perante a plateia possível de reunir naquele terraço, esta não é a típica atuação com valor acrescentado que muitas vezes vemos em filmes concerto. Podiam ter eventualmente escolhido a passagem pelo Hollywood Bowl, ali perto, mas não era essa a ideia… Pelo contrário, a aposta fez-se com num minimalismo de recursos, valorizando as capacidades performativas da banda e as canções. Opção arriscada (mas com final feliz) e talvez inesperada numa banda que tanto valor sempre atribuiu ao valor do artifício (é elogio) perante a canção pop. No fim, tal como em “Future Past”, fica claro que temos aqui uma banda veterana em momento de pico de forma. E Los Angeles foi mesmo o cenário ideal para fixar este momento.





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