Depois de uma etapa na qual a editora 4AD conquistou atenções sob uma identidade atmosférica definida por discos de nomes como os Cocteau Twins, Dead Can Dance ou a “banda da casa”, os This Mortal Coil, uma nova vaga de acontecimentos juntou ao catálogo a presença (não menos marcante) de um emergente som indie rock norte americano, com os Pixies e Throwing Muses na linha da frente dos acontecimentos. E foi destas duas bandas que, por ocasião de uma digressão conjunta, ganhou forma a hipótese de uma experiência em paralelo, então levantada por Kim Deal (Pixies) e Tanya Donelly (Throwing Muses). Da ideia à concretização passou algum tempo até que, numa operação quase fulminante, nasceu numa só semana um álbum de estreia ao qual chamaram “Pod” e que cativou imediatamente atenções. Com muito curta expressão em palco, a formação original deste projeto paralelo, ao qual chamaram Breeders, fixou em “Pod” (então muito elogiado por Kurt Cobain) as bases para um percurso que só conheceria estabilidade numa etapa seguinte que se deve, sobretudo, ao ponto final entretanto determinado pelos Pixies (que só se voltariam a reunir uns valentes anos depois). Por essa altura, do par original estava já só a bordo a ex-Pixies Kim Deal, já que Tanya Donelly havia não só abandonado os Throwing Muses mas também esta aventura paralela, focando atenções numa nova banda, à qual deu o nome Belly. Coube assim a Kim Deal pegar no leme das Breeders e, com nova formação (com a irmã Kelley Deal, Josephine Wiggs e Jim Macpherson), regressar a estúdio para gravar um single que, para surpresa de tudo e todos, gerou um dos maiores êxitos da história da editora, tornando-se assim no seguro cartão de apresentação de uma nova etapa que em breve faria história com um álbum que acabaria por ser apontado como um dos melhores títulos do indie rock dos anos 90.

Com o título “Last Splash” (expressão que encontramos na letra de “Cannonball”), o álbum que abre uma segunda etapa de vida para as Breeders, traduz em pleno o potencial autoral de Kim Deal que se adivinhara já em canções dos Pixies e marcara o próprio “Pod”, porém agora numa moldura cénica mais dinâmica, plena de referências e contrastes, revelando não só uma magnífica coleção de canções mas também uma experiência sónica empolgante, como de resto já o próprio “Cannonball” havia sugerido. Dos caminhos de design quase pop de “Divine Hammer” (tema escolhido como segundo single) ao calor sugerido pelo surf rock em “Flipside”, o fulgor rock clássico de “Saints” ou o travo havaiano em “No Aloha” (aqui claramente a piscar o olho às heranças naturais dos Pixies), não faltando a country numa versão de “Drivin’ on 9” (original dos Ed’s Redeeming Qualities) ou o apelo punk em “I Just Wanna Get Along”, num percurso que junta desafios exploratórios, jogos entre placidez e intensidade e até mesmo o noise.

Agora, 30 anos depois, surge uma edição especial de “Last Splash” que, ao alinhamento do disco original, junta “Divine Mascis” (um caminho diferente para “Divine Hammer” contando, como o título sugere, com J Mascis, dos Dinossaur Jr) e uma outra gravação recentemente reencontrada, “Go Man Go”, canção de créditos repartidos entre Kim Deal e Black Francis, que foi gravada (e se mantinha até aqui sob o estatuto de “perdida”) nas sessões de “Last Splash”. O som passou por um processo de remasterização half speed em Abbey Road (e está incrível, sublinho). O disco inclui um booklet de 16 páginas (com as dimensões de um dez polegadas) com as letras e fotos inéditas de Kevin Westenberg.

“Last Splash – 30th Anniversary Edition”, das Breeders, está disponível em 3LP e nas plataformas de streaming numa edição da 4AD. 

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