Após a experiência com os Tin Machine (banda com vida discográfica entre 1989 e 1992 e da qual resultaram dois álbuns de originais, um disco ao vivo e um quadro de adesão que em nada traduziu a popularidade global vincada ao longo dos anos 80), David Bowie concentrou os esforços em dois projetos, novamente a solo, que editaria em 1993. Um foi deles ganhou forma no álbum “Black Tie White Noise”, o real sucessor de “Never Let Me Down” (1987) e que, de certa forma, conclui o tríptico focado em heranças R&B encetado em 1975 em “Young Americans” e continuado no célebre “Let’s Dance”, de 1983. O outro álbum por si editado em 1993 juntava a música composta para a banda sonora da adaptação ao pequeno ecrã do romance “The Buddha of Suburbia”, de Hanif Kureishi. 

Esta aventura para televisão começou a ganhar forma depois do escritor Hanif Kureishi ter entrevistado David Bowie para uma revista americana, precisamente durante a janela de promoção de “Black The White Noise”. Terminada a conversa, pediu a Bowie a autorização para usar algumas canções suas na banda sonora de uma adaptação televisiva do seu livro “The Buddha of Suburbia” que a BBC estava então a produzir. E, como quem não quer a coisa, acrescentou que, se quisesse, Bowie até podia juntar ali alguma coisa nova. Ao que Bowie terá respondido algo como “estava a ver que não perguntava!”. 

Bowie regressou então a estúdio com Mike Garson e mais alguns músicos para assim responder ao desafio lançado por Hanif Kureishi. Das ideias originais nasceu contudo uma cascata de revisões e reflexões, tendo o disco que depois surgiu com o título “The Buddha of Suburbia” mantido poucos elementos da música que de facto surgiu na série, revelando antes um laboratório vivo de ideias nas quais identificamos sinais de busca por novos rumos que, em breve, ganhariam forma em títulos como “1.Outside” (1995) e “Earthling” (1997). O álbum traduz um trabalho de exploração interessado em novas possibilidades das electrónicas, num mapa onde o piano e o saxofone marcam igualmente presenças notáveis. Fruto talvez do facto de se apresentar como banda sonora e ainda sob as sombras de uma edição recente maior (a de “Black Tie White Noise”) e ofuscado por um “best of” lançado pouco depois, o álbum teve vida discreta e dele apenas o tema-título conheceu a devida mediatização, havendo contudo outros instantes vocais a reter, entre os quais vale a pena notar uma primeira versão de “Strangers When We Meet”, que surgira, em nova visão (e até com direito a vida no formato de single) no álbum seguinte. De certa maneira, mesmo notado na imprensa musical e entre admiradores, “The Buddha of Suburbia” passou a leste das atenções. Mas é um dos mais interessantes espaços de afirmação da vastidão de horizontes que cabem na música de David Bowie e um claro prenúncio do que estava para chegar e representa, por isso, uma peça com peso significativo no processo de renovação que “salvou” Bowie dos solavancos vividos entre finais dos oitentas e a alvorada dos noventas.

“The Buddha of Suburbia” conheceu uma primeira edição, em 1993, com capa alusiva à série de televisão com o mesmo título mas, depois de 2007, todas as reedições passaram a mostrar uma fotografia do músico, a mesma usada logo numa primeira reedição para o mercado norte-americano em 1995.

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