Se entre David Bowie, Marc Bolan e nos Roxy Music podemos encontrar a ‘santíssima trindade’ de uma primeira etapa de movimentações que colocaram em cena o glam rock, há que juntar depois outros a este trio para completar o retrato desse momento e das suas descendências imediatas. E um deles foi Steve Harley, então como timoneiro dos Cockney Rebel que, mais do que seguir o modelo “pop” das canções dos heróis do movimento, aproveitaram sobretudo as sugestões de teatralidade que o momento colocava em cena, vincando, pelo caráter elaborado dos arranjos (e ousadia nas formas, como se escutava em “Sebastian”), as suas primeiras marcas de identidade. Tendo comunicado em dezembro que lutava contra um cancro, Steve Harley deixou-nos ontem, aos 73 anos. 

Nascido em Londres em 1951, com parte da infância vivida num hospital na sequência de um caso de poliomielite, ali descobriu não apenas os livros (Steinbeck, Hemingway ou T.S. Eliot, entre outros) como a música, tendo cedo começado a tocar violino bem cedo, juntando depois a guitarra. Mesmo assim, ao deixar a escola, não o fez para seguir imediatamente uma carreira na música, tendo passado por empregos variados (foi contabilista, foi jornalista) até que, na alvorada dos anos 70, deu por si entre os clubes onde florescia, desde finais dos anos 60, um interesse pela folk, acabando por integrar os Odin. Ao sentir que esse não é o seu caminho muda os azimutes das saídas noturnas para outros clubes, conhece outros músicos e, em 1972, forma os Cockney Rebel, que se estreiam em 1973 com o (longo) single “Sebastian”, que abre caminho, ainda nesse ano, para “The Human Menagerie”, álbum de estreia que, juntamente com os seguintes “Pyschomodo” (1974) e “The Best Years of Our Lives” (de 1975, editado já como Steve Harley & Cockney Rebel), representa a etapa mais marcante de uma obra então brindada com uma sucessão de êxitos entre os quais “Judy Teen”, “Mr Soft” ou “Make Me Smile (Come Up and See Me)”, este último tendo subido ao número um no Reino Unido. Nos anos seguintes, ainda com os Cockney Rebel até 1977 e, depois, a solo, manteve atividade embora sem impacte maior, ocasionalmente procurando episódios de regresso com impacte menos evidente do que outrora com canções como “Ballerina (Prima Donna)” em 1983 ou “Irresistible” em 1985. Na verdade, depois daquela sucessão inicial de álbuns, o episódio de maior impacte da obra de Steve Harley chegou, ainda em 1976, com uma versão de “Here Comes The Sun” dos Beatles, superado apenas, em 1986, com uma nova interpretação do tema-título do musical “O Fantasma da Ópera”, num dueto com Sarah Brightman.

Steve Harley reativou em diversas ocasiões os Cockney Rebel, que tiveram segunda vida de 1989 a 1992 e uma terceira a partir de 1996, com atividade que agora conhece um ponto final com o seu desaparecimento. Mais visíveis que muitas das suas edições em disco (a solo ou com banda) depois dos anos 80 foram as versões de algumas das suas canções que foram surgindo, como a que os Duran Duran criaram para “Make Me Smile (Come Up and See Me)” (que incluíram no lado B do single “The Reflex”) ou a que o próprio ator Jonathan Rhys Meyers cantou em “Tumbling Down” na banda sonora de “Velvet Goldmine”, filme de 1998 de Todd Haynes.

Uma resposta a “Steve Harley (1951-2024)”

  1. Tenho ideia de que as gravações do fantasma da ópera (por exemplo deste primeiro single ou seguinte com Cliff Richard) são anteriores ao musical por isso não serão regravações.

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