Fotógrafo, com trabalhos feitos também em vídeo, com uma agenda regular de exposições desde o início do século e diversos prémios entretanto conquistados, o parisiense Oan Kim não parece muito dado à ideia de ter tempos livres… E juntou ao trabalho na fotografia, vídeo e como professor Universitário uma outra frente criativa: a música. E um ano depois da sua estreia em disco com “Oan Kim and the Dirty Jazz” eis que apresenta em “Rebirth of Innocence” um segundo capítulo a uma história que não podemos deixar passar longe das nossas atenções.
A música está longe de ser uma surpresa na vida de Oan Kim. Desde logo a sua formação incluiu uma passagem pelo Conservatório e, depois, bandas como os Film Noir (banda indie por vezes comparada com os dEUS, que editou o álbum “I Had A Very Happy Childhood” em 2009) e os Chinese Army (um coletivo que caminha por trilhos semelhantes aos de uns TV On The Radio, que lançaram em2014 um EP em vinil partilhado com os La Feline e alguns mais recentes singles digitais, um deles o belíssimo “The Narcissit”, de 2015). Cantor e saxofonista, Oan Kim juntou recentemente um coletivo – ao qual chamou The Dirty Jazz – pelo qual agora edita um segundo álbum que acentua, mais ainda do que o disco de estreia (de 2023), a criação de uma região de possibilidades que traduzem o ecletismo do seu percurso na música mas também uma noção de espaço e cenografia que não será estranha ao seu olhar como fotógrafo e videasta.

Mais elaborado nos arranjos, mais focado na moldagem dos ambientes, também mais capaz de encontrar unidade entre a diversidade, “Rebirth Of Innocence” é mesmo um dos casos sérios de 2024. Do prólogo “Dirty Jazz” que sugere brumas e mistérios aos terrenos vocais (que vão da moody “Lush” em dueto com Gabi Hartmann aos domínios de diálogo entre as escolas indie, herança natural de vivências nos Chinese Army, e o jazz de “Tall Man Little Horse”), o álbum desenha caminhos bem equilibrados entre momentos instrumentais e canções, sugerindo um percurso de linhas bem estruturadas, pleno de contrastes mas sempre coerente e coeso. Vocalista, saxofonista e pianista, Oan Kim sugere em “Rebirth of Innocence”, editado no ano em que celebra os seus cinquenta, uma atmosfera melancólica, algo nostálgica, mas sempre profundamente sedutora. O disco, que é até aqui a melhor surpresa de 2024, vinca um alerta para uma nova cena jazz (de vistas largas) que habita a França dos nossos dias e que, nas últimas semanas, nos deu discos como “Oizel” de Marion Rampal, “Mères Océans” de Christophe Panzani ou “Keep It Simple” de Yann Jankielewicz.
“Rebirth of Innocence”, de Oan Kim & The Dirty Jazz, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais numa edição da Artwork Records.





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