Foi uma surpresa para tudo e todos. Os Specials tinham sido um dos nomes mais vibrantes nascidos em clima pós-punk na Inglaterra de finais dos anos 70. Mas quando menos se esperava, três dos seus elementos resolveram sair de cena, formando nova banda, seguindo um caminho distinto. Eles eram Terry Hall (uma das almas centrais dos Specials e figura que ainda teria protagonismo pop nos Colourfield, um pouco mais adiante), Neville Staple e Lynval Golding. Juntos passaram a responder como Fun Boy Three e estrearam-se em 1982 num álbum homónimo que, apesar do sucesso dos três singles extraídos do seu alinhamento, acabou com o tempo como uma peça injustificadamente esquecida entre as memórias do seu tempo. 

Tal como outros contemporâneos seus como os Creatures (projeto paralelo dos Sixouxsie & The Banshees), os Bow Wow Wow ou Adam and The Ants, os Fun Boy Three colocavam o trabalho com as percussões na frente da sua identidade. Há entre as canções do álbum de estreia dos Fun Boy Three uma noção de arrumação dos espaços que, entre o minimalismo de recursos levado a cena, faz das vozes e do trabalho de percussão o centro gravítico das composições. Um apelo tribal (ora africano, ora caribenho, outras vezes sem uma geografia concreta) cruza canções que sugerem uma cenografia de mais sombras que luzes, de tensão e mistério, de formas mais sugeridas que polidas, diferentes da angulosidade habitual em clima pop/rock. Longe do ska e dos espaços mais claramente demarcados vividos pelos Specials, os Fun Boy Three propunham caminhos de ensaio e descoberta que, apesar da invulgaridade das ferramentas e formas, não perdiam a consciência de uma alma pop que, de resto, se manifestou bem evidente nos singles acima retirados. 

O percurso dos Fun Boy Three cruzou-se bem cedo com o das então emergentes Bananarama, desta parceria nascendo os clássicos “Really Saying Something” e “It Aint What You Do It’s The Way That You Do It”, episódios de um percurso relativamente curto mas suculento que ainda incluiu uma versão de “Summertime” (dos irmãos Gershwin) e um segundo álbum, “Waiting”, editado em 1983. Agora, pouco mais de um ano depois do desaparecimento de Terry Hall, e meses volvidos sobre a edição da integral “The Complete Fun Boy Three” (com 5CD e um DVD), eis que se junta à discografia dos Fun Boy Three a compilação “Extended”, com versões longas dos máxis originais, juntando aos clássicos lados A alguns tesouros para os maiores admiradores. A edição, apenas disponível em vinil, surgiu entre os lançamentos do Record Store Day de 2024.

“Extended”, dos Fun Boy Three, está disponível numa edição em 2LP, num lançamento da Chrysalis