Um possível exemplo sobre o peso que a crítica pode ter exercido sobre a história de um disco tem em “Dirty Mind”, o terceiro álbum de Prince, um caso digno de ser apontado. As vendas não estavam a decorrer tão bem como as de “Prince” (o álbum de 1979), a rádio não era destino fácil para canções de natureza tão explícita e até mesmo o arranque de uma nova digressão conhecera um ponto final precoce uma vez que tudo indicava que iam perder dinheiro… Mas foi então que, na imprensa, começaram a surgir as críticas, que davam o disco como um dos mais interessantes exercícios de revitalização do funk e notavam como nunca um disco de tamanha dimensão erótica havia sido apresentado por um homem. E assim, pelas palavras de entusiasmo publicadas, aquela que podemos reconhecer hoje como a primeira obra-prima de Prince, acabou por não passar despercebida, servindo à sua discografia nos anos 80 um primeiro episódio que se revelaria fulcral para a subida de divisão que se adivinhava para breve e que dele faria, pouco tempo depois, uma estrela com dimensão global.

Foi num pequeno estúdio, montado na cave de uma nova casa à beira do lago Minnetonka, que Prince desenvolveu as ideias que o afastariam dos caminhos mais canónicos do R&B e do disco que havia trilhado nos dois primeiros álbuns, rumando a paragens funk animadas pela presença dos novos sintetizadores, dirigindo as canções para um patamar mais ousado de relacionamento com o corpo, o desejo, nalgumas revelando mesmo uma natureza sexualmente explícita.

Apesar do confronto difícil entre as novas canções e a editora, “Dirty Mind” revelaria em Prince os primeiros sinais de uma visão transformadora e, mais do que em “For You” e “Prince”, a materialização de uma voz autoral com um rumo bem definido. Canções como “Dirty Mind” ou “Uptown” transportam a sua visão funk para um terreno de diálogo com o presente, revelando “Sister” e “When You Were Mine” sinais de uma atenção pelos ecos (contemporâneos) da new wave que semeavam aqui ideias que floresceriam e que em breve o encaminhariam nas rotas que o conduziriam a uma lógica de diálogos da identidade funk com linguagens da pop e do rock que fariam de “1999” e “Purple Rain” discos de dimensão planetária. Por seu lado, “Partyup” reforça uma ligação fundamental com os princípios genéticos centrais do funk.

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