Recuemos a 1958… Esse era o ano que assistia à terceira edição do Festival da Eurovisão, formato inspirado pelo Festival de Sanremo que se realizava nessa cidade costeira italiana desde 1951. A Sanremo, com os olhos postos (depois) na Eurovisão, concorreu então Domenico Modugno, ali apresentando “Nel Blu Dipinto Di Blu”, que venceu o concurso, rumando depois a Hilversum, nos Países Baixos, onde a vitória sorriu a André Claveau (França), com “Dors Mon Amour”, ficando a proposta italiana em (apenas) terceiro lugar. 

Apesar da falta de entusiasmo maior dos jurados eurovisivos, foi contudo a canção de Domenico Modugno a que acabaria por fazer carreira internacional. De resto, universalmente conhecida depois como “Volare”, tornou-se inclusivamente no primeiro êxito maior com berço na Eurovisão. E logo nesse ano, entre agosto e setembro, a canção passou cinco semanas no posto mais alto da tabela da “Billboard”, nos EUA, onde acabaria por ser o single mais vendido do ano arrebatando depois Grammys para Disco do Ano e Canção do Ano, com vendas globais a atingir os 18 milhões. A canção ganhou depois muitas outras vidas sendo gravada por inúmeras outras vozes. Além de muitas vozes italianas a canção teve novas interpretações por nomes como Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Barry White, Dalida, Frank Zappa, Louis Armstrong, Ray Charles, David Bowie ou até mesmo leituras instrumentais, como a que foi assinada por Oscar Peterson. 

Agora é a vez de (re)descobrir esta mesma canção na voz de Rita Lee. Gravada nos últimos anos de vida da cantora, criada em parceira com Roberto de Carvalho e com uma letra em português assinada pela própria Rita Lee, “Voando”  surge assim como a primeira edição póstuma de uma das vozes maiores do rock brasileiro. O single, por enquanto apenas com expressão digital, surgiu acompanhado por um teledisco que nos mostra imagens de vídeos caseiros de Rita Lee, na sua maioria filmados na casa no interior do estado de São Paulo onde vivia com a família. Roberto de Carvalho, que vemos também nas imagens e que partilha (como em tantas outras ocasiões) o protagonismo deste momento com Rita Lee, apresentou o vídeo em estreia no programa Fantástico, da TV Globo. “É uma maneira de matar a saudade, é uma maneira de homenageá-la e de fazer com que a obra permaneça viva, organicamente viva”, explicou então o músico, que acrescentou ainda, sobre a letra em português, que nova letra da música como era “uma metáfora”, como se “a Rita estivesse voando, permanecendo aqui”.

A ideia de criar esta versão nasceu de um projeto que o casal tinha e pelo qual iriam fazer abordagens, com travo de bossa nova, a canções sobretudo relacionadas com o cinema. E “Nel blu, dipinto di blu”, depois de Sanremo e da Eurovisão, surgiu de facto num filme (com o mesmo título) de 1959, com Domenico Modugno e Vittorio de Sica no elenco, Ettore Scola na equipa de argumentistas e Piero Tellini na realização. Gravaram e deixaram a versão da canção arquivada até que, agora, finalmente a podemos escutar. Na reportagem da TV Globo Roberto Carvalho revelou que há mais canções gravadas à espera de poderem, um dia, ser editadas tal como esta agora foi revelada. 

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