David Sylvian, “Manafon” (2009)

Não era a primeira vez que víamos uma figura com raízes na cultura pop a dar um salto para lá das fronteiras… pop. Recorde-se por exemplo o percurso de um Scott Walker que, dos dias vividos entre os Walker Brothers e uma carreira a solo que nos deu uma notável sequência de discos na reta final de 60 caminhou, depois de Tilt (1995) para terrenos claramente afastados dos que em tempos percorrera. Os sinais de mudança lançados pelo álbum Discret Music (1975), de Brian Eno. Ou, numa opção pontual, a aventura que foi Metal Machine Music (1975), de Lou Reed. 

David Sylvian há muito que dava sinais de busca de algo mais que a simples exploração das formas mais clássicas de escrita de canções, tendo encontrando na música improvisada um campo de trabalho. Com Holger Cuzkay começou por experimentar texturas num díptico de álbuns editado entre finais de 80 e inícios de 90. Com os Rain Tree Crow (coletivo que reuniu os quatro ex-Japan) levou depois a mesma lógica de trabalho à canção, opção novamente posta em prática durante a criação de Blemish (2003), um dos mais notáveis dos discos de Sylvian.

Manafon, o sucessor de Blemish, assinalou em 2009 a continuação dessa demanda, num passo todavia ainda mais ousado e decidido. Com a obra do poeta galês R.S. Thomas como ponto de partida da agenda temática, Sylvian chamou a estúdio músicos (entre os quais Christian Fennesz, Evan Parker ou John Tilbury) que lhe permitiram construir peças para lá das convenções da canção, onde contudo palavras e música se unem como um todo consequente. Contido, minimalista, as ideias aqui despidas à sua essência… É um disco alheio às fronteiras dos géneros, que se descobre aos poucos, arrumando-se progressivamente as palavras, formas e texturas a cada novo encontro.

Além da edição (mais vulgar) em CD, Manafon conheceu um lançamento limitado em vinil, no formato de 2LP, pela Samadhisound, a editora do próprio Sylvian. Um exemplar pode hoje ultrapassar os 150 euros.

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