
Obra de referência na história da música eletrónica portuguesa, a Elegia a Amílcar Cabral (um dos fundadores do PAIGC, movimento que organizou a luta pela independência de Cabo Verde e da Guiné Bissau) foi composta por Jorge Peixinho imediatamente após tomar conhecimento do seu assassinato, em janeiro de 1973. É o próprio Jorge Peixinho quem explica, no inlay que acompanha o LP que asseguraria em 1978 a estreia em disco desta obra, que “optou por “composição de uma obra eletrónica pura, caracteristicamente elegíaca, estática e meditativa, desprovida dos atributos específicos de uma forma dramática. Recorreu assim a uma pensamento que o levou no sentido de uma “extrema economia de meios, um tratamento exaustivo de um material reduzido à sua mais simples expressão”.
A Elegia a Amílcar Cabral é constituída por 12 sons sinusoidais que permanecem imutáveis durante o decorrer da peça e divide-se em nove secções justapostas “sem uma solução de continuidade”. A peça surge neste LP em duas versões. A primeira corresponde a uma gravação em duas pistas, a segunda a uma outra de quatro, que traduz a sobreposição de uma segunda fita magnética que “apresenta pequenas variantes” relativamente à original. Esta gravação foi registada no Instituto de Psico Acústica de Música eletrónica em Gent, na Bélgica, sob produção do próprio Jorge Piexinho. O disco teve edição em LP em 1978 pela Diapasão, integrando a “Discoteca Básica Nacional” que estava a ser criada pela então Secretaria de Estado da Cultura. Esta mesma gravação seria depois editada em CD em 1997 pela Strauss.
Natural do Montijo, Jorge Peixinho (1940-1995) começou por estudar em Lisboa mas a sua formação levou-o depois a outras paragens, entre as quais a Academia de Santa Cecilia, em Roma. Trabalhou com Luigi Nono em Veneza e depois de 1960 participou nos cursos internacionais em Darmstadt. Aí tomou parte em alguns concertos experimentais promovidos por Stockhausen.