O ponto de partida para o mais recente álbum do norueguês Hans-Peter Lindstrøm foi um desafio lançado pelo Henie Onstad Kunstsenter, um importante centro de arte contemporânea nos arredores de Oslo. Ali apresentou uma série de atuações, todas elas de bilheteira esgotada, às quais se seguiu um período de reflexão: que tal desenvolver essas mesmas ideias agora no quadro de uma gravação para edição em disco? No fundo algo semelhante ao que Murcof fez depois de apresentar uma série de atuações site specific em Versalhes das quais nasceu o belíssimo The Versailles Sessions em 2008.
Usou então as mesmas máquinas. Sintetizadores analógicos, todos eles com largos anos de vida. E gravou peças em takes únicos, acrescentando eventualmente novo material apenas com o recurso às mesmas máquinas. Sem plug-ins. Ou seja, sem recorrer a cosméticas ou outras artes que as novas tecnologias permitissem fazer. Misturou e editou as composições para o tempo disponível nas duas faces de um LP…
E eis que assim surge On A Clear Day I Can See You Forever, um álbum que propõe caminhos diferentes dos que Lindstrøm já percorreu com o space disco, a pista de dança ou até mesmo o desafio do formato da canção em mente. Este é um disco mais contemplativo, livre nas formas, paisagista no seu âmago… Lembra os caminhos de alguma eletrónica que se praticava em meados dos anos 70, ainda sob influências de ecos do progressivo, nomeadamente do que então fazia um Vangelis ou Jean Michel Jarre (nos instantes menos… pop de Oxygène). On A Clear Day I Can See You Forever segue sobretudo a expressão de um conceito. Mas é música que sabe bem… Que abre pontes entre tempos. E que pode levar Lindstrøm a mais profundas caminhadas para longe das tendências dominantes do momento em próximas experiências.
“On A Clear Day I Can See You Forever”, de Lindstrøm, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais, numa edição da Smalltown Supersound.
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