Leonard Bernstein, “Mass” (1971)

Missa (Mass, no original), de Leonard Bernstein (1918-1990), nasceu para surpresa de tudo e todos quando, em 1971, o John F. Kennedy Center For Performing Arts (em concreto, Jacqueline Kennedy) lhe encomendou uma obra para ser estreada na noite da sua inauguração, não especificando junto do compositor (e também reconhecido maestro) que tipo de peça pretendia.

Bernstein tinha há muito uma admiração por Kennedy e, de resto, havia-lhe dedicado a sua terceira sinfonia, na sequência da morte do Presidente em Dallas, em 1963. De formação pessoal judaica, Bernstein optava pela composição de uma missa (um dos géneros mais importantes da tradição musical na velha Europa cristã) não apenas para assinalar o facto de Kennedy ter sido o Presidente católico apostólico romano dos EUA, mas também porque, nem inícios de 70, a Igreja vivia tempos de mudança (da emergência da teologia da libertação à revisão de velhos dogmas e rituais), que assim fazia questão de sublinhar.

Missa, de Bernstein, mais do que apenas uma obra religiosa, é uma obra política, servindo a forma musical (e a sua carga histórica) como catalisador para uma demonstração do poder unificador das artes em volta da memória de uma figura e a crença uma ideia. Na sua Missa, Bernstein cruza a exploração concreta de questões do foro religioso (que abordara já, tanto na já referida Terceira Sinfonia e nos Chichester Psalms), com uma reflexão sobre as concretas condições sociais da vida do dia-a-dia, que por si fora já abordada na música de West Side Story.

Os dois mundos, não apenas temáticos, mas igualmente musicais (juntando aqui, claramente, tradições da música erudita a marcas da cultura popular, nomeadamente a herança do musical), juntam-se numa obra absolutamente espantosa, que apela a uma necessidade de espiritualidade. Musical, política e socialmente, a Missa de Bernstein é um retrato do seu tempo. Teatralizada, cruza linguagens, sublinhando também na sua interpretação a noção de diversidade que a própria música em si transporta.

Missa estreou-se na inauguração do Kennedy Center, a 8 de Setembro de 1971, revelando um formato inesperado para quem chegara a pensar, pouco depois da encomenda lançada pela viúva do presidente Kennedy, compor uma missa de requiem. Da pop ao gospel, de linguagens da música contemporânea a janelas abertas ao som característico dos musicais da Broadway, esta é uma das composições mais surpreendentes da obra de Bernstein.

Este disco foi editado em 1971 pela CBS e corresponde a uma gravação da obra com o elenco original da estreia no Kennedy Center. Tem por isso Alan Titus como voz protagonista. Leonard Bernstein dirige um conjunto de músicos expressamente reunidos para a ocasião. Edição em álbum duplo em vinil, mais tarde disponível em CD. Edição CBS Records.

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