Este é o número 14 da lista “100 Discos Daqueles que Raramente Aparecem nas Listas…” Foi editado em 1961 documentando um concerto que ganhou um peso icónico na história do showbusiness norte-americano, traduzindo também um momento feliz na conturbada vida e obra de Judy Garland.
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Entre a vasta discografia de figuras associadas aos universos do cinema musical e a toda uma tradição de escrita, arranjos e abordagens interpretativas que definem relações diretas com os espaços do jazz, da música orquestral e, naturalmente, do teatro, a obra de Judy Garland pode não representar a mais extensa ou até mesmo mais popular. Mas tanto o conturbado perfil biográfico da atriz e cantora (que dela fizeram um ícone muito peculiar) como o facto de ter, com os seus discos e atuações, contribuído para a fixação de abordagens muito pessoais ao grande “songbook” americano, fizeram da sua relação com a música um espaço de referência no universo da cultura popular norte-americana de meados do século XX. Surgido num momento de feliz reencontro com os palcos, a sua atuação no Carnegie Hall, em Nova Iorque, a 23 de abril de 1961, teve um impacte tal que chegou mesmo a ser descrita como a maior noite na história do showbusiness. Editado em disco poucos meses depois, o registo desse concerto ganhou assim um lugar de destaque maior não apenas na obra de Judy Garland mas também das tradições musicais que ali conheciam um episódio particularmente bem sucedido.
O disco é o documento áudio do que aconteceu em palco, mantendo mesmo as sequências de falas que Judy Garland mantém com a plateia, juntando às canções uma dimensão ainda mais pessoal. O alinhamento recolhe canções, algumas delas arranjadas em medleys, que traduzem um olhar panorâmico sobre o grande cancioneiro ligado às tradições do teatro e do cinema musical (não apenas americano, já que Noel Coward é um dos autores revisitados). Judy Garland passa ali por canções cujas memórias se cruzam com palcos e ecrãs, algumas delas tendo feito parte de episódios-chave da sua própria vivência como atriz e cantora como, por exemplo, quando aborda o clássico Zing! Went The Strings Of My Heart, de James F Hanley, que ela tinha cantado nos anos 30 antes do sucesso global obtido em 1939 com O Feiticeiro de Oz do qual aqui não falta, naturalmente, o clássico Somewhere Over The Rainbow.
O disco foi um sucesso enorme e passou mais de 70 semanas na lista de vendas da Billboard, 13 das quais no primeiro lugar. Meses depois arrecadou a vitória em quatro categorias nos Grammys, uma delas a de Álbum do Ano. E em 2006, três anos depois de a Biblioteca do Congresso ter juntado este disco à lista do National Recording Registry (que guarda gravações com um peso histórico, cultural ou estético que traduzam a vida americana), Rufus Wainwright recriou, de fio a pavio, estes concertos no Carnegie Hall (Nova Iorque) e London Palladium, daí nascendo depois registos em disco e DVD aos quais chamou Rufus Does Judy at Carnegie Hall. – N.G.
“Judy At Carnegie Hall”, por vezes referido com o subtítulo “Judy In Person”, teve edição original em 2LP em 1961, tanto nas versões mono como estéreo, pela Capitol Records, e conheceu reedições ao longo do tempo que mantiveram intacto tanto o alinhamento como recorreram à capa dessa primeira edição. O disco chegou a CD em 1989. Em 2015 houve uma reedição oficial em vinil, uma vez mais pela Capitol.
Da discografia de Judy Garland vale a pena descobrir álbuns como:
“A Star Is Born” (1954)
“Miss Showbusiness” (1955)
“Judy In Love” (1958)
Se gostou, experimente ouvir:
Ethel Merman
Liza Minelli
Doris Day