
Lado A: O Barquinho da Esperança
Lado B: A História do Barquinho
(PolyGram, 1984)
A história das Doce cruzou-se várias vezes com a do Festival da Canção. E desses encontros nasceram clássicos maiores como Doce (1980), Ali Babá (1981) ou Bem Bom (1982), a canção que lhes deu uma vitória na terceira participação e que as levou à Eurovisão. Há, contudo, uma quarta participação das Doce no festival. Em nada replicou o impacte das anteriores. Mas na verdade essa canção juntou-a a duas figuras de grande protagonismo na criação de uma nova cultura popular no Portugal de então e poderia até ter sido um primeiro passo para uma eventual nova etapa que acabou por não se concretizar.
Com o título O Barquinho da Esperança, a canção que as Doce levaram ao Festival da Canção em 1984 tinha música de Pedro Ayres de Magalhães (então nos Heróis do Mar) e letra de Miguel Esteves Cardoso (cujos textos sobre música tinham marcado o jornalismo musical português). Ambos eram os rostos da editora independente Fundação Atlântida. E não fosse o facto de as Doce terem uma filiação numa multinacional, este single poderia ter ali nascido.
Distinta do tom mais festivo de grande parte dos “clássicos” das Doce, O Barquinho da Esperança era uma balada que sugeria uma proposta diferente, ensaiando espaços de diálogo entre a canção popular e ecos dos universos do fado, estes expressos através da presença da guitarra portuguesa nos arranjos (de Pedro Ayres Magalhães). De certa forma podemos juntar O Barquinho da Esperança a uma história de aproximação da pop ao fado que teve um dos seus marcos de referência em Fado, canção que os Heróis do Mar editariam em single (e depois no álbum Macau) em 1986.