Bauhaus “Dark Entries” (1980)

Editado em janeiro de 1980 com o número de catálogo AXIS 3, o single “Dark Entries” dos Bauhaus representou o primeiro episódio de sucesso para a jovem editora londrina. Texto: Nuno Galopim

Se os dois primeiros lançamentos da Axis (futura 4AD) passaram diretamente para o vale do esquecimento (estando um mesmo destino reservado ao quarto), já o sete polegadas lançado em janeiro de 1980 com o número de catálogo Axis 3 não só abriu caminho para a primeira história de sucesso da editora como assegurou um passo seguro para da banda fazer uma referência daquele tempo.

Ao contrário dos Fast Set, Bearz ou Shox, os Bauhaus não eram estreantes. Dos quatro singles que fizeram o lançamento da Axis eram não apenas a única banda com um plano estético delineado, uma vida em palcos em construção e um disco já antes editado. Lançado em 1979, o doze polegadas protagonizado por Bela Lugosi’s Dead, tinha sido proposto a várias editoras (entre as quais a Stiff Records), mas acabara na pequena Small Wonder Records, a única que não protestou com o facto de a canção ser invulgarmente longa. Pois tomaram a decisão certa já que a tabela de britânica de singles indie albergou Bela Lugosi’s Dead em lugares de visibilidade durante quase dois anos!

Os Bauhaus pretendiam contudo voar mais alto. E levaram uma maquete à loja da Rough Trade, esperando que chegasse à Beggar’s Banquet e ali entusiasmasse os responsáveis pela editora. Geoff Travis, como recorda Martin Aston no livro Facing The Other Way – The Story of 4AD, não gostou. E num dia em que Peter Kent visitou a loja e, ao escutar a maquete, o patrão da Beggar’s deixou esse comentário, logo o cofundador da 4AD respondeu, deixando claro que, se o “chege” não gostava, então os Bauhaus seriam seus. Foi vê-los a Northampton, onde Peter Murphy lhe terá dito que Ivo Watts Russel também não gostara do que ouvira. Mas Pete Kent levou o seu entusiasmo avante. E, em janeiro de 1980, os Bauhaus editatam o seu primeiro single pela Axis (mais tarde reeditado como 4AD).

Dark Entries, o tema no lado A do single, era uma canção não só mais curta mas também musicalmente distinta do tom hipnótico (vincado pelo dub) de Bela Lugosi’s Dead. Era uma canção mais intensa na eletricidade, contudo já bem firme na vontade em expressar a abordagem minimalista ao rock que os Bauhaus tomariam como assinatura. Inspirada por O Retrato de Dorian Grey, de Oscar Wilde (o que vincava uma alma art rock), a canção tornava-se num segundo episódio de referência na discografia do grupo. No lado B surgia Untiteled, um tema mais experimental e anguloso no qual a voz de Peter Murphy raramente emerge, fazendo-o apenas num registo spoken word.

PS. Vale a pena notar que, segundo uma cláusula do acordo original da Axis (futura 4AD), estava previsto que qualquer banda que alcançasse um certo patamar de sucesso maior transitaria para a Beggar’s Banquet. Assim aconteceu com os Bauhaus, ao que parece originalmente preteridos por Geoff Travis. Ironias do destino.

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