Originalmente editado em 2007, o álbum, que nasceu depois de uma experiência com o coreógrafo Jean Grande-Maitre, vai ter uma edição em vinil. Texto: Nuno Galopim

O álbum Shine, que assinalou em 2007 um regresso aos discos de Joni Mitchell, vai ter edição em vinil pela primeira vez em abril. O álbum, que representa também (até ver) a sua derradeira gravação em estúdio editada em disco, foi diretamente inspirado pelo bailado Dancing Joni: The Fiddle and the Drum, um trabalho que Joni Mitchell desenvolveu com o coreógrafo Jean Grande-Maitre.
Em 2007, após longo silêncio, bastava saber-se que Joni Mitchell ia lançar um novo álbum para que o acontecimento fosse, por si só, digno de notícia. Porém, a esse dado juntou-se então o facto de Shine representar a sua primeira gravação essencialmnente feita de temas originais em nove anos. E resultava ainda da sua primeira colaboração com uma editora discográfica ligada à rede de cafés Starbucks.
Shine chegou num tempo em que os grandes da mesma “fornada” de Joni Mitchell estavam a ser alvo de merecido reconhecimento por diversas gerações de amantes da música, e em particular por figuras de proa da cena musical do presente. Poucos meses antes, a edição (pela Nonesuch) de um tributo às suas canções apresentava nomes como os de Björk, Sufjan Stevens, Brad Mehldau, Caetano Veloso ou Prince a si rendidos. E no mesmo ano Herbie Hancock dedicou-lhe todo um álbum (The Joni Letters).
A história da música popular deve-lhe uma extensa obra de exceção que, depois de dois álbuns em demanda de uma personalidade (Song To A Seagull e Clouds, de 1968 e 69), ganhou fôlego, identidade e grande exposição em monumentos como Ladies of The Canyon (1970) ou Blue (1971). Da sua discografia destacam-se ainda discos como o excelente Court and Spark (1974), Hejira (1976) ou Turbulent Indigo (1994), retratos de tempos e destinos musicais distintos entre si, mas sob evidente expressão de fortíssimas marcas autorais.
Shine chegou na altura certa e interrompeu abrupta e inesperadamente um silêncio anunciado em 2002 quando, por alturas da edição de Travelogue, Joni Mitchell amargamente reconhecera estar longe dos objetivos e hábitos da indústria discográfica. Contudo, em 2005 fora desafiada a colaborar num projeto para um espetáculo de dança centrado em canções suas, acabando para a sua banda sonora ceder duas canções inéditas que, entretanto, abriram portas ao conjunto de gravações que agora podemos escutar.
Cruzando uma série de reflexões pessoais (como as que partiram de uma observação do seu neto, de três anos, sobre pesadelos, em Bad Dreams) com olhares sobre o mundo contemporâneo, a guerra no médio oriente, a igreja, Shine revelou ser um dos mais inspiradores discos de toda a obra de Joni Mitchell posterior a meados de 70 e revelou a redescoberta de uma voz que, mesmo distinta da de outrora, está diferente da sombra que Travelogue sugerira anos antes.
O álbum, por um lado, retomava a simplicidade melodista, de genética folk, de outros tempos, mas juntava-lhe a elegância sinfónica das versões de Travelogue. Um clássico à nascença, manteve viva a voz atenta de uma cantora que, em If I Had A Heart, comenta o estado de guerra em que se viva e, em Big Yellow Taxi (nova versão de um clássico de Ladies of The Canyon) voltava a sublinhar uma postura verde perante o mundo. O álbum fecha com If, canção que nasce de um poema de Rudyard Kipling.
Agora vamos reencontrar esta música em vinil. Este é o alinhamento:
Lado A:
1. One Week Last Summer
2. This Place
3. If I Had A Heart
4. Hana
5. Bad Dreams
Lado B:
1. Big Yellow Taxi
2. Night Of The Iguana
3. Strong And Wrong
4. Shine
5. If