Quando a cultura pop ocidental começou a passar pela cortina de ferro

Originalmente lançado por ocasião do Record Store Day em 2019, um álbum duplo que documenta a digressão que Elton John fez na URSS em 1979 tem agora lançamento generalizado em vários formatos. Texto: Nuno Galopim

Em finais dos anos 70 a cortina de ferro era ainda pesada e resistia ainda à ferrugem que se começava a acumular. Mas aos poucos surgiam frestas. Controladas, vigiadas… Mas eram frestas. Cliff Richard e os Boney M (sim, os Boney M) tinham já atuado na URSS… E é por essa altura que, acabado de editar o álbum A Simple Man e com planos de levar para estrada uma digressão mais centrada na interpretação das canções do que na exuberância cénica mais habitual, Elton John recebe um convite para apresentar uma série de concertos em território russo. Foram ao todo oito atuações, quatro em Leninegrado (hoje São Petersburgo), quatro em Moscovo.

O primeiro concerto mostrou perante o palco uma plateia aparentemente austera e calada. Os convidados oficiais ocupavam as filas da frente… O público mais jovem ficou ao fundo da sala… Porém, ao encore, tendo alguns dos “figurões” do poder abandonado a sala, a multidão menos sisuda reagiu à música dançando e celebrando, gerando um momento que se fez notícia. O momento incomodou as autoridades e as noites seguintes foram mais controladas… Isso não impediu Elton John de apresentar o alinhamento que tinha em mãos, fazendo daquelas oito noites entre 21 e 28 de maio de 1979 um momento marcante no seu historial. Além das notícias impressas em jornais houve um documentário. Mas só em 2019, por ocasião do Record Store Day, finalmente chegou a disco (em lançamento limitado no formato de 2LP) o registo áudio desta digressão, em gravações feitas em Moscovo pela BBC. Agora, meses depois, Live From Moscow tem edição generalizada em vários formatos.

Live From Moscow faz um bom retrato ao vivo das canções mais marcantes da obra de Elton John até ali. E, tal como era o objetivo da digressão, reflete um cuidado na execução instrumental e na interpretação vocal, destacando ainda a presença, com algum protagonismo, de Ray Cooper (que é agora é creditado na capa). O alinhamento é feito de canções de Elton John que entretanto se tornaram clássicos, juntando ainda versões de I Heard It Throught The Grapevine, Pinball Wizzard e, a fechar, duas “doses” de Beatles com Get Back e Back in the USSR.

Quem tiver a biografia de Elton John pode ainda acrescentar às memórias que estas gravações guardam um conjunto de outras histórias que envolvem tanto uma descrição (pouco entusiasmante) do hotel que acolheu Elton John em Leninegrado ou uma aventura com um agente do KGB…

“Live In Moscow”, de Elton John, está disponível em 2LP, 2CD e nas plataformas digitais, numa edição da Universal.

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