A mesma autora da brilhante banda sonora da série “Chernobyl” é a compositora que Todd Phillips chamou para criar a música de “Joker”. Hildur Guðnadóttir está, pela primeira vez, na corrida para os Óscares. Texto: Nuno Galopim

Hildur Guðnadóttir é uma compositora islandesa. Tem 37 anos e nos últimos 12 meses alcançou um patamar de notoriedade maior, sobretudo por trabalhos de composição para televisão e cinema. Cresceu numa família de músicos, integrou os Múm, tocou com bandas como os Animal Collective, The Knife ou Throbbing Gristle e em tempos partilhou um estúdio (e alguns trabalhos) com o recentemente desaparecido Johann Johánsson, o primeiro compositor islandês a obter reconhecimento no mundo do cinema internacional.
Marcas de profunda melancolia, que são características que muitas vezes explora com o violoncelo (o seu instrumento), cruzam algumas das obras que foi editando em discos que começou a lançar a solo depois de 2006. Chegou ao cinema em 2011, começando a construir uma obra quer como compositora quer como violoncelista. Neste último caso contam-se já várias colaborações em filmes de Denis Villeneuve.
Apesar dos vários momentos em que a televisão e o cinema foram passando pela sua agenda profissional, nada se pode comparar ao que alcançou em 2019. Primeiro com a (notável) banda sonora da série Chernobyl. E para criar a música de Chernobyl ela mesma visitou centrais nucleares em busca de sugestões de ambiente e espaço que tão bem depois transportou para a composição. A música chegou a disco, numa edição que assinalou a sua primeira colaboração com a Deutsche Grammophon e que entretanto lhe deu vários prémios, entre os quais um Grammy.

Também de 2019, a banda sonora de Joker, que na verdade tem mais afinidades com ecos do trabalho orquestral anterior de Hildur Guðnadóttir do que com a demanda mais exploratória que escutámos em Chernobyl, superou já o volume de prémios que a música criada para a série entretanto gerou.
Editada pela Watertower Music em vários suportes – em vinil, por exemplo, há desde prensagens coloridas a picture discs – a música que Hildur Guðnadóttir criou para Joker é sombria, introvertida, carregada de dor e, tal como a personagem interpretada por Joaquin Phoenix, acumula gradualmente uma atmosfera de tensão latente.
Talvez seja, no plano das formas, menos desafiante do que a que escutámos em Chernobyl. Mas é um bom exemplo de trabalho de composição tão capaz de expressar personalidade autoral como, ao mesmo tempo, servir a construção de uma obra que, ao fim ao cabo, tem o nome do realizador como assinatura que todas as outras engloba.
PS. Entretanto já se sabe. Ganhou mesmo o Óscar. É merecido!

“Chernobyl – Music From The HBO Minisseries”, de Hildur Guðnadóttir, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais numa edição da Deutsche Grammophon.
“Joker – Original Motion Picture Soundtrack”, de Hildur Guðnadóttir, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais numa edição da Watertower Music.