Uma viagem no tempo, até dezembro de 1974, com Bryan Ferry

A atuação histórica de Bryan Ferry em 1974 no Royal Albert Hall (Londres) chega a disco 45 anos depois para recordar os momentos em que subiu pela primeira vez ao palco a solo. Texto: Nuno Galopim

Depois de dois álbuns que ajudaram a criar novas visões para uma ideia de art pop, Brian Eno afastava-se dos Roxy Music para iniciar um percurso a solo que, a seu tempo, o levaria a outras contemplações e experiências… Ao mesmo tempo, e antes mesmo de reunir o grupo para criar um disco que asseguraria a continuidade dos Roxy Music, Bryan Ferry encetou igualmente um percurso em nome próprio (que, a intervalos, acabaria por conduzir em paralelo com a carreira do grupo). Estreou-se a solo, em 1973, com These Foolish Things e, um ano depois, juntou a este percurso o álbum Another Time Another Place. Entre ambos, e mais ainda do que na etapa até então vivida pelos Roxy Music, procurou estabelecer pontes entre tempos distintos, vincando uma postura (visual e vocal) de crooner que, de certa forma, moldaria daí em diante a sua imagem. Essencialmente feitos de versões de canções, sobretudo dos anos 50 e 60, e entre elas mostrando desde logo uma admiração maior por Bob Dylan (a que regressaria por diversas vezes em discos futuros), os dois álbuns foram inicialmente experiências apenas de estúdio. Mas, chegado a 1974, resolveu levá-las a palco. Fê-lo numa curtíssima digressão de apenas três datas que envolveu uma passagem pelo Royal Albert Hall… A noite fez história e desde então viveu sobretudo entre as memórias de quem ali esteve as registou… Até que, 45 anos depois, eis que surge num disco que, quem sabe, poderá abrir caminho a novas incursões pelos arquivos do cantor (e, certamente, dos Roxy Music).

O alinhamento corre entre as canções dos dois primeiros álbuns a solo de Bryan Ferry nos quais ele mesmo procurava não apenas explorar as suas potencialidades como intérprete mas também o ensaiar de pontos de vista no modo de reencontrar, noutro contexto, este corpo de canções que passam por momentos tão distintos como  Sympathy For the Devil (original dos Rolling Stones), You Won’t See Me dos Beatles ou o tom mais bubblegum de um It’s My Party, passando por The In Crowd ou Smoke Gets In Your Eyes, que se transformariam em clássicos na versão de Bryan Ferry. A gravação traduz o ambiente vibrante de uma atuação ao vivo, intensa e sem os aconchegos que o estúdio confere… É um episódio de história. Para admiradores de Bryan Ferry, naturalmente. Mas não deixa de ser interessante notar aqui como este encontro com uma plateia numa sala para consagrados captou não apenas o entusiasmo de uma estrela pop a viver um momento de afirmação da sua popularidade mas, também, a de um cantor a definir jogos de ligação a heranças que assimilou e o ajudaram a definir alguns caminhos da sua música.

“Live At The Royal Albert Hall – 19th December 1974”, de Bryan Ferry, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais numa edição da BMG.

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