Da gravação de arquivo de uma atuação para a rádio francesa em 1975 acaba de surgir uma nova edição em disco de “Music in 12 Parts”, uma das obras fulcrais da fase minimalista da obra de Philip Glass. Texto: Nuno Galopim

Depois de uma série de obras exploratórias nas quais Philip Glass definiu os princípios de uma linguagem muito pessoal – que juntamente com obras de La Monte Young, Terry Riley e Steve Reich definiram, na década de 60, um espaço que acabaria por ser designado por “minimalismo” – o compositor norte-americano encarou a possibilidade de transportar essas mesmas ideias e formas para peças de um âmbito mais alargado no tempo e, a seu tempo, no palco. E se a Einstein On The Beach, a primeira das suas óperas (a que abriu uma trilogia de “retratos” que teria continuação em Satyagraha e Akhnaten) coube a consagração de uma visão pessoal, na verdade foi numa outra peça, igualmente extensa, que Philip Glass alcançou pela primeira vez a conquista de um desafio de grande fôlego. Iniciado em 1971, num projeto para o qual Philip Glass imaginara como possivelmente concluído, Music In 12 Parts é um ciclo de doze peças tocadas em sequência para um ensemble de teclas, metais, flauta e voz que, na verdade, sé em 1974 seria concluído.
A história discográfica de Music in 12 Parts começou, em 1976, com a edição em LP das partes um e dois pela Caroline. Em 1988 a Venture lançou uma caixa de seis LP com a primeira integral da obra (que teria igualmente lançamento em cassete e CD). As partes um a seis tinham já sido gravadas em 1975 (duas delas correspondendo ao LP de 1976), tendo as restantes sido registadas em finais de 1987. Uma nova gravação, captada em várias sessões em Nova Iorque entre março e maio de 1993, surgiu em CD triplo, pela Nonseuch, em 1996. A terceira edição em disco de Music in 12 Parts começou por surgir em ficheiros digitais em 2007 e, depois, conheceu lançamento num CD quádruplo em 2008, pela Orange Mountain Music, a editora do próprio compositor. Este lançamento correspondeu à primeira edição em disco de uma interpretação ao vivo de Music in 12 Parts, gravada em 2006 em Rovereto (Itália). Agora entra em cena uma quarta gravação que, na verdade, corresponde a uma mais antiga captação ao vivo de uma apresentação pública desta obra.
Em 1975, com a obra recentemente concluída, Philip Glass apresentou Music in 12 Parts no estúdio 104 da La Maison de Radio, em Paris. Na ocasião Philip Glass tinha consigo as contribuições de Jon Gibson, Dickie Landry, Michael Riesman, Joan La Barbara and Richard Peck, apresentando assim a obra numa versão para sextet. Dessa gravação, recentemente reencontrada, acaba de surgir uma edição em duplo LP em vinil com as partes 1, 2, 3, 11 e 12.
A face D deste LP duplo inclui um programa de rádio produzido na época no qual é apresentada uma entrevista com Philip Glass (que aqui fala em francês) e gravações de momentos captados durante os ensaios, que tiveram lugar em Nova Iorque, no loft onde então o músico viva e trabalhava. Este programa especial foi produzido pelo musicólogo Daniel Caux, cofundador da Shandar Records. Esta edição surge de material de arquivo e nasce de uma parceria com a ORTF e o Institut National de l’Audiovisuel (INA).
“Music in 12 Parts”, de Philip Glass, está disponível em 2LP e na plataforma Bandcamp (ver aqui) numa edição da Transversales Disques