Uma questão com que muitas vezes nos enfrentamos, sobretudo quando compramos discos em segunda mão (em lojas ou em feiras) é o da limpeza do vinil. Como se limpam os discos? Quais os melhores métodos? Que produtos devemos usar? Texto: Nuno Galopim
Cada colecionador tem os seus métodos e opções. E por isso mesmo fomos escutar quatro melómanos com muitos discos em casa e um hábito regular de comprar vinil em segunda mão: Rui Miguel Abreu, Pedro de Freitas Branco, João Carlos Callixto e Luís Pinheiro de Almeida…
O Rui Miguel Abreu diz-nos que, “normalmente com discos usados, sobretudo os que vêm das feiras e que estão carregados de pó” o que costuma fazer sempre é que nunca os toca “sem antes os lavar”. O Rui lava-os no “lava-loiças, com água filtrada, tendo cuidado para não molhar em demasia a etiqueta”, mas não se “preocupando se isso acontecer porque ela seca rapidamente”. Além da água usa “uma solução com detergente da loiça diluído (nunca concentrado)”. Enche “os dois lados do disco de espuma” e depois passa “muito bem por água”. Normalmente, como nos diz, gosta “de tocar os discos ainda molhados, porque assim a agulha acaba de fazer a limpeza retirando o resto de impurezas que ainda possam estar nas espiras mas já devidamente amolecidas pelo detergente e pela água”. O Rui explica que não compra “soluções milagrosas na net para limpar os discos”. Quando “um dia ganhar o Euromilhões” tem “planos para comprar uma daquelas máquinas que aspiram as impurezas e que deixam os discos incríveis. Mas isso só quando tiver comprado uma mansão e um sistema audiófilo de um milhão de euros”, conclui.
Por seu lado o Pedro de Freitas Branco conta que é “rigoroso e cirúrgico nesse aspeto”. O que quer isso dizer? O Pedro responde: “Nenhum disco usado, ou selado há anos, toca na agulha e entra na coleção antes da lavagem. Como não tenho máquina, lavo o disco no lavatório do WC. Primeiro, passo água com a mão pelo vinil, protegendo sempre o rótulo central. Segundo, passo uma mistura de água com sabão líquido. Terceiro, passo de novo por água, para tirar o sabão. Quarto, retiro suavemente toda a água da superfície do vinil com papel higiénico soft – agora em falta! -, começando por secar possíveis pingos no rótulo central. Por fim, coloco o disco em pé numa superfície para secar mais um pouco. Tudo isto, nunca esquecendo que hoje em dia só compro discos em estado de excelência, se possível à flor do cunho”. O Pedro acrescenta que só lava discos novos “se apresentarem alguma oleosidade de fábrica, o que acontece bastante hoje em dia, ou se vierem nesses ‘inners assassinos’ deste século que colam no vinil e o vão riscando progressivamente”. Nesse caso guarda “sempre o disco novo num inner neutro com plástico fino interior”.
O João Carlos Callixto, por sua vez, diz-nos que “quando os discos chegam” ou quando os compra presencialmente, limpa “apenas as capas”. Limpa-os “com uma normal folha de papel higiénico, se a capa for em cartão ou papel simples ou com algodão e álcool se for capa plastificada”. O João Carlos avisa, contudo, que não aderiu “à moda irracional de açambarcar rolos!”.
Uma posição bem diferente é a do Luís Pinheiro de Almeida: “Não limpo rigorosamente nada! Até sou alérgico a água e/ou detergentes. Era o que faltava! Assim chegam, assim se guardam com a patine natural. Ainda agora me chegou o EP dos Blusões Negros e foi direto para a estante com ácaros e tudo. Há até quem limpe as capas, as datas, as assinaturas, as dedicatórias… Autênticos assassinos da memória, crimes de lesa-cultura! Não faço nada disso e até aprecio (defeito profissional, Ephemera)”, responde.
Ora estes são passos a ter em conta em função das características de cada coleção e dos hábitos de cada colecionador. Passos que refletem o momento em que os discos usados “novos” chegam a casa. E, depois? Que cuidados têm quando chega a hora de voltar a escutar um disco da sua coleção.
Quando põe um disco a tocar” o Rui Miguel Abreu gosta “de usar aquela escova de veludo para limpar algum pó que se possa, entretanto, ter acumulado, cuidado esse que depois tenho também com a agulha, usando uma pequena escova para limpá-la de qualquer resíduo de poeira que se possa ter agarrado quando tocou o disco anterior. O Pedro de Freitas Branco conta-nos que “todo o manuseamento da peça é feito com o máximo de carinho”. Ou seja: “Ponta dos dedos nas extremidades do disco que, por sua vez, é colocado no prato com as rotações paradas. Já em movimento, antes que a agulha desça sobre os sulcos”, deixa “o disco roçar por uma escova profissional que retira impurezas superficiais. É fundamental também manter o inner sleeve, ou plástico interior, sem fungos, humidades, etc”. A experiência do João Carlos Callixto é um tanto diferente porque, como explica, nunca ouve “um disco apenas”. Ou seja, grava-o “desde logo para o computador. Limpa “as espiras com uma fralda embebida numa mistura de álcool isopropílico e água destilada. Et voilà, que fujam as poeiras… e os vírus!”. Aqui, o Luís Pinheiro de Almeida conta que tem “zero de cuidados” e acrescenta: “Viva a Memória, abaixo os assassinos dela e os detergentes!”.
Que fujam, subscrevo! Belo texto!
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