Os Sundra Arc são dois irmãos que integram um outro grupo de jazz e aqui encontraram espaço para experiências eletrónicas ambientais que, no seu álbum de estreia, convocam a presença do piano, de um saxofone e um clarinete. Texto: Nuno Galopim

Têm um nome que chama logo a atenção a quem tenha estudado geologia ou nutra um interesse pela vulcanologia (é o meu caso, tanto numa coisa como na outra). Sundra Arc (que poderemos traduzir como Arco de Sundra) é o nome pelo qual se designa o limite convergente entre placas tectónicas responsável pela formação das ilhas de Sumatra e Java e que é uma zona vulcânica bem ativa (o vulcão Krakatoa, cuja violenta erupção de 1883 fez história e gerou já várias expressões na cultura popular) situa-se entre as duas grandes ilhas e é mais um “fruto” deste mesmo fenómeno geológico… Pois foi precisamente a essa estrutura que dois irmãos britânicos foram pedir um nome emprestado na hora de se apresentarem ao mundo.
Nick e Jordan Smart, elementos dos Mammal Hands (um grupo de jazz), encaminham as suas experiências com música eletrónica para a dupla a que chamaram Sundra Arc, tendo-se estreado em 2018 com o promissor EP Flicker. Dois anos depois o álbum Tides não perde o seu encantamento pelo tecno minimal mas acrescenta um labor mais elaborado no alargar das possibilidades das suas ideias a uma música que não deixa de ser ambiental (piscando por vezes o olhar também a heranças ora escutadas no pós-rock ora em rotas neoclássicas) mas que está enriquecida com outros timbres, como o do clarinete, o saxofone ou o piano, e desenha agora uma mais versátil paleta de cenografias.
Há várias marés numa viagem que tem o sabor do desafio da exploração mas que não causa nunca uma ideia de perplexidade ou desconforto. Quem gosta da música de um Nils Frahm ou Pantha du Prince tem aqui mais um disco a ouvir.
“Tides” dos Sundra Arc, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais, numa edição da Gonwana Records.