O adeus do baterista que ajudou a criar o ‘afrobeat’

Morreu em Paris, aos 79 anos, o baterista Tony Allen, importante parceiro de Fela Kuti na criação do ‘afrobeat’. Depois de anos em parceria passou a definir caminhos a solo ou em novas colaborações e integrou o supergrupo The Good The Bad and The Queen. Texto: Nuno Galopim

Brian Eno e Flea já o descreveram como o melhor baterista que o mundo conheceu. São opiniões certamente justas, que se fazem escutar num momento em que surge a triste notícia do seu desaparecimento, aos 79 anos, em Paris (onde vivia). Juntamente com o também nigeriano Fela Kuti, Tony Allen criou o ‘afrobeat’. E nos tempos mais recente encontrámo-lo ora em discos a solo ora em colaborações com figuras de vulto (de Charlotte Gainsbourg, Moritz Von Oswald ou Sébastien Tellier aos Air ou Jarvis Cocker) ou até mesmo a bordo de supergrupos como os The Good The Bad and The Queen ou Rocket Juice and The Moon, em ambos os casos contando com Damon Albarn como parceiro.

Tony Allen nasceu em Lagos (Nigéria) em 1940 e fez-se músico por si mesmo. Trabalhava como técnico numa estação de rádio, ouvia discos, lia revistas… E em meados dos anos 60 deu por si numa banda highlife, os Cool Cats, onde começou por ser percussionista, acabando por tomar o lugar do baterista quando este saiu do grupo. Também na década de 60 Fela Kuti desafia-o para formar uma outra banda. Juntos juntam linguagens do jazz com highlife sob o nome Koola Lobitos. E já no final da década, depois de uma primeira digressão nos EUA, reinventam o grupo como Africa 70. Mais aberto ainda a cruzamentos, firme em raízes africanas mas sedentos de assimilar outras linguagens, o som que vai surgindo nos discos que Fela Kuti cria, juntamente com Tony Allen e os demais elementos dos Africa 70 gera todo um volume de acontecimentos que acaba por transcender o seu impacte local para virar referência.

Os percursos de Fela Kuti e do baterista acabam por se separar, criando Tony Allen a sua própria banda em 1980. Às bases afrobeat entretanto criadas e desenvolvidas vai sempre juntar outros desafios e experiências, nomeadamente nas áreas do funk. Muda-se para Londres em 1984, mais tarde, em 2000, para Paris. Juntou eletrónicas e dub aos horizontes do seu trabalho. E voltou a cruzar-se com Fela Kuti (entretanto desaparecido em 1997, numa altura em que era igualmente reconhecido pelo fulgor do seu ativismo político) quando a Red + Hot Organization o convidou a colaborar em Red Hot + Riot, disco de tributo ao seu velho parceiro. Entre os seus mais recentes discos estão álbuns como The Source (disco a solo de 2017) ou Merrie Land (2018), este um segundo álbum pelos The Good The Bad and The Queen. Já este ano tinha lançado Rejoice, magnífico disco que juntava gravações feitas com o trompetista sul-africano recentemente desaparecido Hugh Masekela. Tony Allen e Masekela tinham-se conhecido na Nigeria, nos anos 70, quando o baterista ainda trabalhava com Fela Kuti. Rejoice é assim um duplo documento de despedida.

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