Cada disco pode contar várias histórias. E quem quiser mais do que ficar olhar para as capas pode agora ler aqui… Dez discos… e as respetivas histórias. E assim nasce o gosto de cada um. E hoje quem partilha aqui os seus dez discos e as respetivas memórias é Richard Zimler.
The Beatles “Meet the Beatles”
(1964)
Comprei o primeiro disco dos Beatles, Meet the Beatles em 1964. Tinha 8 anos. Contem êxitos mundiais como I Want to Hold Your Hand e I Saw Her Standing There. Não é o melhor disco do grupo mas as canções – a energia, as melodias, as harmonias – mudaram a minha mente de uma forma decisiva. Há um “antes dos Beatles” e “depois dos Beatles” na minha vida (e também na cultura ocidental). E tudo começou com este disco e a sua primeira digressão pelos EUA. Comprei todos os seus discos subsequentes (claro!). Favoritos? Revolver, Rubber Soul, Sergeant Pepper’s, The White Album, Abbey Road… Quando o John Lennon foi assassinado desatei a chorar como se tivesse sido um grande amigo meu de há muitos anos. E foi.

Joni Mitchell “Blue”
(1971)
Se os meus anos do liceu tivessem uma banda sonora, Blue teria muito destaque nela. Antes deste disco, sabíamos que a Joni Mitchell era uma talentosa cantora, mas Blue demonstrou que era também uma compositora genial. As suas canções têm melodias únicas e invulgares e letras poéticas e maravilhosas. Nada de “show business” ou “marketing” neste disco – é tudo do coração.

Bruce Springsteen “Nebraska”
(1982)
Sempre gostei das canções rock de Springsteen – e as suas actuações dinâmicas – mas com Nebraska – o seu sexto disco – ele provou que era um compositor de uma sensibilidade muito invulgar. Todos os “tracks” são inteligentes e surpreendentes – e alguns são profundamente comoventes. Para mim, Nebraska representa o auge da sua carreira e um dos melhores discos dos últimos 25 anos do século 20.
Walter Carlos “Switched on Bach”
(1968)
É um projecto do músico Walter Carlos, de 1968, em que utilizou sintetizadores Moog (um instrumento eletrónico novo) para tocar algumas das composições mais conhecidas de J.S. Bach. Ouvi pela primeira vez com 12 anos e fiquei fascinado com o som estranho mas “perfeito” do instrumento. O projecto foi considerado uma aberração pelos puristas mas é um dos dois discos que despertaram em mim uma enorme apreciação pela obra de Bach (o outro disco é o seguinte na lista).
Christopher Parkening “Christopher Parkening Plays Bach”
(1971)
Parkening é um virtuoso de guitarra clássica e neste disco toca obras de Bach originalmente escritas para outros instrumentos. Interpreta as obras de uma forma magistral , com muita inteligência e sensibilidade, o que despertou em mim um profundo interesse pela guitarra clássica (que comecei a estudar aos 18 anos).

Amália Rodrigues “O Melhor de Amália (Estranha Forma de Vida)”
(1985)
Acho que Amália tinha uma das melhores vozes do século 20. Era uma grande artista. Descobri-a pela primeira vez em 1980 quando eu e meu futuro marido passámos umas férias em Portugal. Acho que Barco Negro é a melhor canção de fado de todos os tempos e a sua interpretação sempre me faz arrepios. Em qualquer parte do mundo, quando oiço de voz de Amália, penso em Portugal e fico com uma imensa vontade de lá estar.

The Rolling Stones “Big Hits (High Tide and Green Grass)”
(1966)
Mais um disco que faria parte da banda sonora da minha juventude (comprei-o em 1966, aos 10 anos). Inclui “hits” como Satisfaction, Get Off My Cloud, 19th Nervous Breakdown… Para quem gosta de rock, os Stones são esenciais (obviamente!), e mais tarde produziriam obras geniais como Honky Tonk Women e Brown Sugar. Nunca senti a rivalidade entre os Beatles e os Stones; sempre adorei os dois. Vi o grupo ao vivo em Greensboro, North Carolina, em 1974.
John Kander e Fred Ebb “Cabaret” (banda sonora)
(1972)
Será o melhor musical de sempre? Para mim, não há dúvida. As canções, de John Kander e Fred Ebb, são espirituosas, cativantes e inteligentes. E Liza Minelli e Joel Grey interpretam-nas de uma forma magnífica. Já vi o filme 7 vezes. E conheço quase todas as canções de cor. (Vi o filme 3 vezes num período de 4 dias em 1982 porque estivemos em Lyon durante uma canícula – 40 graus todos os dias – e os únicos sítios com um ar condicionado decente eram os cinemas!).
Maddy Prior “Flesh & Blood”
(1997)
Maddy Prior tem uma voz cristalina e poderosíssima. Foi uma das fundadoras do movimento celta na música popular inglesa dos anos 60 do século passado. Flesh & Blood é para mim o seu melhor disco. É uma obra que é ao mesmo tempo – e paradoxalmente – muito variada e unficada. A melhor canção? Heart of Stone. Quando a oiço fico sempre muito emocionado pela gloriosa voz de Maddy e as suas letras comoventes. A sua interpretação a cappella da grande canção de Todd Rundgren, For Lack of Honest Work, é simplesmente genial.

Leonard Cohen “I’m Your Man”
(1988)
Tinha-me quase esquecido do Sr. Cohen e os seus grandes discos do fim dos anos 60 do século passado quando, em 1988, entrei na grande loja de discos em Berkeley, Califórnia – Tower Records. O rapaz de caixa tinha posto a canção First We Take Manhattan no gira-discos, num volume altíssimo. Fiquei pasmado pela voz de Leonard e as letras (“They sentenced me to 20 years of boredom, for trying to change the system from within”). Todas as canções são excepcionais e Leonard interpreta-as maravilhosamente bem. Vimo-lo ao vivo em 2009, no Radio City Music Hall em Nova Iorque. Um concerto sublime.
Extraordinária lista! E que belas reflexões…
GostarGostar