A 28 de novembro de 1983 surgiu o primeiro volume da série “Now, That’s What I call Music”, que juntava êxitos da Virgin e EMI britânicas num disco comum. Nasceu ali o primeiro episódio de uma série que já vai em 105 lançamentos, aos quais se juntam séries paralelas e em muitos outros países. Texto: Nuno Galopim

A prática de criar compilações com os êxitos do momento não era novidade quando, em 1983 surgiu uma variação desse mesmo conceito. Porque não juntar mais do que uma editora, aumentando assim o leque de artistas (e de êxitos) que ali se poderiam reunir num disco comum? A ideia nasceu nos escritórios da Virgin Records e rapidamente obteve o sim do responsável de então da EMI. O acordo entre as duas editoras (nessa altura eram entidades separadas) foi assinado num iate de Richard Branson, o “patrão” da Virgin. E para dar nome ao disco foi usada uma frase de um cartaz de publicidade a ovos e bacon (sim, “ovos e bacon”) dos anos 20. Now That’s Waht I Call Music… E a 28 de novembro o volume inaugural da série chegou às lojas.
Now That’s What I Call Music (só na edição seguinte começaria a ser acrescentado um número ao título) surgiu no formato de álbum duplo em vinil e cassete, com um total de 30 canções que tinham representado êxitos significativos ao longo do ano, 11 dos quais haviam alcançado o número um no Reino Unido, entre eles Is There Something I Should Know? dos Duran Duran, Too Shy dos Kajagoogoo, Candy Girl dos New Editon, Red Red Wine dos UB40, Give It Up dos KC & The Sunshine Band, Baby Jane de Rod Stewart, Down Under dos Men at Work, You Can’t Hurry Love de Phil Collins, Total Eclipse of The Heat de Bonnie Tyler, Wherever I lay My Hat That’s My Home de Paul Young e Karma Chameleon dos Culture Club. O alinhamento encerrava com Victims, dos Culture Club, notando a legenda no inlay do álbum que, no momento em que o dono daquele exemplar tivesse a compilação nas mãos, aquele deveria ser o número um no Reino Unido… Ooops, não aconteceu. Victims trepou apenas até ao número três (e no mês de dezembro de 1983 passaram pelo número um Never Never dos Assembly, Love of The Common People de Paul Young e uma versão de Only You pelos Flying Pickets).
O mais interessante do alinhamento deste volume inicial da série Now That’s What I Call Music é o modo como concilia a presença de êxitos da dimensão dos acima enumerados com temas como Double Dutch de Malcolm McLaren ou Lovecats dos The Cure, notando como se manifestava então a noção do que era “mainstream”. E mainstream em 1983 eram ainda canções como Temptation dos Heaven 17, Safety Dance dos Men Without Hats, Fascination dos Human League ou Let’s Stay Together de Tina Turner, também aqui representados. Expressão de um fenómeno (breve) de êxito maior, o universo Kajagoogoo é o que mais temas aqui junta: além de Too Shy encontramos Only For Love (single de estreia a solo de Limahl) e Big Apple (o single inaugural da etapa que o grupo enceta depois da saída do vocalista). O acomplamento das quatro faces do disco duplo colocava no final de cada lado uma “balada”, como que a sugerir que festas se pudessem fazer ponto as quatro faces dos discos a tocar pela ordem que o vinil (ou a cassete) sugeria.
O enorme impacte desta compilação (que alcançou o número um no Reino Unido) ditou a sorte da série, que ainda hoje se mantém ativa. A edição mais recente corresponde a Now That’s What I Call Music 105, com nomes como os de Billie Eilish, Rita Ora, Lady Gaga ou Dua Lipa no alinhamento. As edições em suporte de vinil mantiveram-se até ao número 35 (em 1996) e as cassetes mantiveram-se como formato oficial até ao número 64, em 2006. O CD surgiu como formato no volume 10 (1987, estando a decorrer neste momento uma série de reedições que estão a redisponibilizar os títulos de 1 a 9 nesse formato). A primeira edição digital chegou com um número 62, em 2005. Entre os números 43 (1999) e 48 (2001) hoje edições em formato de MiniDisc. Até ao volume 20 quase todas as edições foram acompanhadas por um lançamento (em simultâneo) em vídeo – sobretudo no formato VHS, apesar de algumas edições Betamax nos primeiros anos e laserdisc mais adiante – com os telediscos respetivos.
A história da série assistiu à sua expansão a outros territórios (há edição portuguesa desde 1999) e à criação de séries paralelas e edições especiais. As mudanças no mapa de artistas e editoras foi alterando também os selos através dos quais esta série foi surgindo.
Por alguma razão a compilação dos Housemartins chamou-se “Now That’s What I Call Quite Good”. Porque foi uma frase que ficou. Quanto à qualidade destas compilações iniciais tinham a vantagem de dedicar-se à maior parte do ano e não serem compilações parcelares (verão e natal como ficou depois): Mesmo que não se goste de um ou outro tema são tudo clássicos daquela altura. Há tabelas diferentes os dados que aparecem não são das tabelas oficiais da BBC e do Music Week. https://www.officialcharts.com/charts/singles-chart/19831225/7501/ O final do ano foi dominado pelo “Uptown Girl” e pelo “Only You” com cinco semanas cada um em primeiro lugar. O “Victims” chegou a terceiro. O “Never Never” atingiu apenas o nº4.e o Paul Young o nº2.
GostarGostar