Surgidos em 1985 e ainda hoje uma das mais vibrantes forças criativas da música que se fgaz entre nós, os Pop Dell’Arte têm uma discografia que junta aos seus cinco álbuns de estúdio – Free Pop (1987), Ready Made (1993), Sex Symbol (1995), Contra Mundum (2010) e o recente Transgressio Global (2020) – uma discografia que envolve vários lançamentos nos formatos de single, máxi e EP. É entre esse conjunto de edições, que apresentam na maior parte das vezes temas que não estão incluídos nos álbuns, que se faz esta lista de cinco títulos:
Um a um aqui foram surgindo nestes últimos dias…
2002. So Goodnight EP
Mrs Tyler + So Goodnight + The Sweetest Pain + Pound by Pound + The Witch Queen Of The U.S.A. + Little Drama Boy
Um concerto de casa cheia no Forum Lisboa, em 1999, confirmava a dimensão de uma obra e do seu reconhecimento como caso maior de culto nascido do panorama pop/rock alternativo da Lisboa de meados dos 80. A noite, que chegou ao fim mais por obrigação dos horários da sala do que pela vontade dos músicos e da plateia, terminou com um tema novo, ouvindo-se em loop, em repeat, a expressão “goodnight goodnight”.
Esse tema novo, que reafirmava o gosto pelo trabalho de colagem e repetição, surgiria como canção-título de um EP lançado em 2002. João Peste chamou-lhe mesmo um EPÁ… Além de So Goodnight surgiam também ali ali, entre seis temas, Mrs. Tyler e a versão de um standard de Natal, devidamente assimilada à la Pop Dell’Arte, como Little Drama Boy. A banda chegava em grande forma ao novo milénio.

1987. Querelle
Lado A: Querelle / Lado B: Mai 86
(12″, Ama Romanta)
A criação, por João Peste, da editora Ama Romanta juntou um dado importante a um novo panorama discográfico independente que começava a surgir em Portugal. Editada em 1986, a compilação Divergências, onde surgiam representados nomes como os Pop Dell’Arte, Mler Ife Dada, Croix Sainte, Essa Entente, SPQR, Linha Geral e outros nomes da linha da frente da nova música “moderna” portuguesa, e no qual surgia ainda a gravação de uma entrevista com o sociólogo Paquete de Oliveira, serve de manifesto a uma maneira de estar numa nova cultura alternativa que ganhava forma.
Em 1987 os Pop Dell’Arte assinalavam, pela mesma editora, o lançamento do seu primeiro disco. Foi um maxi-single, com o tema Querelle na face A e Mai 86 no verso. Um teledisco, de José Pinheiro e Bruno Niel, criado para acompanhar a canção estabelecia naturais relações com referências do Querelle de Fassbinder.

1988. Sonhos Pop
Lado A: Sonhos Pop / Lado B: Esboorrr
(7″, Ama Romanta)
A confirmação de tudo aquilo que os Pop Dell’Arte vinham a mostrar desde a sua passagem pelo concurso do RRV em 1985 teve materialização em Free Pop, álbum de estreia editado em 1987 que podemos hoje reconhecer como uma das peças mais marcantes do panorama musical português da época e um dos feitos maiores de uma geração de músicos que evitou decalques e mimetismos de modas e tendências para afirmar antes os valores mais profundos da sua identidade.
Técnicas como, por exemplo, as da manipulação de fitas e colagens, usadas em Free Pop, ganharam igualmente forma em Sonhos Pop, canção que surge no formato de single logo depois. O tema abre com sons de uma entrevista (de rádio) a Aníbal Cabrita, cedendo lugar a uma canção… deliciosamente pop. No lado B surge Esboorrr, que se tornaria outro clássico desta etapa da obra do grupo.

1989. Illogik Plastik
Lado A: Illogik Plastik + Poema Para Noiva Circular Em Betão Armado Plástico Cor-De-Rosa & Rádio Digital Programado Em FM
Lado B: Saltando Das Nuvens + O Amor É… Um Gajo Estranho
(12″ EP, Ama Romanta)
Depois de um célebre concerto na Aula Magna em 1988, o passo seguinte na obra dos Pop Dell’Arte chega na forma de um EP com quatro temas, lançado no formato de um doze polegadas. O disco incluía os temas Illogik Plastik, O Amor É… Um Gajo Estranho, Poema Para Noiva Circular Em Betão Armado, Plástico Cor-De-Rosa Com Rádio Digital Programado Em F.M. e Saltando das Nuvens.
No mesmo ano o grupo faz uma pausa, com a partida de João Peste para formar, com Jorge Ferraz (dos Santa Maria Gasolina em Teu Ventre), o projeto João Peste & O Acidoxibordel. O projeto teria uma vida curta, de apenas poucos meses, gravando apenas um EP no qual regista os temas Groovy Noise-Dada Rock, Clio Software, Cocaine, Amigo e Distante Domingo.

2002. So Goodnight EP
Lado A: 2002 (Pop Dell’Arte After Digital Boy)
Lado B: MC Holly (Pop Dell’Arte After Richard Strauss)
Uma nova etapa na vida dos Pop Dell’Arte entra em cena, com formação renovada que se apresenta em concerto antes mesmo de mostrar novas gravações. É com o máxi-single 2002 / MC Holly que se destapa o véu sobre uma nova demanda que, mais do que nunca, deixa clara a influência da obra de Marcel Duchamp.
Este cartão de visita reflete ainda pontos de vista sobre ecos da club culture, ora assimilando a vertigem techno contemporânea de MC Holly ora partindo numa viagem space disco cinematográfica e orquestral com 2002. O lado A é apresentado na bolacha do máxi como “Pop Dell’Arte After Richard Strauss” e o lado B como “Pop Dell’Arte After Digital Boy”. Os dois temas seriam integrados no álbum Ready Made que seria lançado pouco depois e no qual surgem sinal de outros mais desafios e caminhos. No disco colaboraram Sei Miguel, General D e Salomé.
Infelizmente, os discos que aparecerão por aqui não têm sido objeto de reedições que evitem a especulação de que são alvo, aliás como muitos dos lançamentos da Ama Romanta. O catálogo devia ser atualizado, até para que as novas gerações pudessem tomar o pulso ao que aconteceu entre 86-91. Como tal ainda não aconteceu, a riqueza do período quase que permanece um fenómeno etário, o que acabará, inevitavelmente, por levar esta música para o campo do olvidável.
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