Somfay “A Catch in the Voice” (2009)

O canadiano Jesse Somfay, com obra editada através de vários nomes, apresentou em 2009 o álbum “A Catch In The Voice” que, salvo algumas cópias promocionais em CD, é uma pérola esquecida por enquanto apenas disponível em suporte digital. Texto: Nuno Galopim

Nada como os meses do Verão para, perante uma redução na intensidade do ritmo das edições discográficas, encontrarmos uns pedaços de tempo para voltar a ouvir títulos que fizeram parte da banda sonora de outros anos… Fixemo-nos hoje em A Catch In The Voice, disco editado em 2009 pelo canadiano Jesse Somfay que e então nos deu a escutar uma das mais interessantes propostas na área do chamado techno minimal da primeira década do século XXI, porém sem ter conquistado nunca a visibilidade (merecida, sublinhe-se) de um This Bliss, de Pantha du Prince, editado dois anos antes.

Apesar da existência de uma edição limitada em CD (esgotada) e de ter havido algumas cópias promocionais (também em CD) em circulação, o disco foi apenas disponibilizado nas lojas online e em plataformas de streaming. E possivelmente a relativamente discreta mediatização quer do álbum quer da obra do músico (ou outra razão que desconheço) não terá até aqui levantado a eventualidade de reedição em suporte físico. À falta de disco físico, escute-se ao menos a música em suporte digital…

A Catch In The Voice é um pequeno monumento de acontecimentos que vale a pena descobrir. É um disco que pede tempo… Álbum duplo, divide as composições entre um primeiro disco essencialmente ambiental, guardando os temas ritmicamente mais ginasticados para o disco dois. É contudo no primeiro que se revela a face paisagista e de intenções quase narrativas de uma música que cresce à nossa vista tal e qual um olhar se lança sobre um espaço que aprende a ver, a distinguir e aos poucos começa a habitar.

As composições revelam um interesse pelos métodos de construção gradual, não receando o canadiano o experimentar de sugestões de pontual opulência quase épica (como se escuta em Good Morning Strange Light), todavia sempre sob parcimónia… minimalista. Do estrito jogo minimal de elementos programados e de frestas de discreto (mas familiar) melodismo à tecelagem de ambientes que por vezes evocam claramente a escola Brian Eno, as composições criam, uma após outra, um espaço que em pouco tempo sugere uma noção de conforto. Ao qual se deseja regressar logo a seguir. A Catch In The Voice é uma peça a recuperar numa discografia que continua ativa e que, ainda há poucas semanas, juntou ao seu historial o EP The Lioness & the Ermine, que lançou sob o nome Comadrona.

Sobre Jesse Somfay (que assinou este álbum apenas como Somfay) vale a pena acrescentar que nasceu em 1986 e cresceu numa casa em que se escutava a música de Jean Michel Jarre, dos Tangerine Dream ou Vangelis. Através da rádio alargou as suas pistas de formação à música de dança que se ouvia nos anos 90. Comprou máxis, dois gira-discos, e começou a trabalhar como DJ na aurora do século XXI, juntando à construção da sua obra um trabalho na composição e produção. Fruto das novas experiências como DJ a sua música era inicialmente uma expressão de interesses pelo tecno… Mas aos poucos ecos de outrora começaram a emergir e a composição migrou para caminhos minimais…

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