Este é o número 27 da lista “100 Discos Daqueles que Raramente Aparecem nas Listas…” Editado em 1969 é muitas vezes recordado como a obra prima de um músico fascinante e inclassificável cuja obra caminhou entre o jazz, a música contemporânea e ecos da cultura nativa americana e que conquistou um lugar na história da cultura de Nova Iorque. Texto: Nuno Galopim
Moondog ( de deu nome real Louis Hardin) é um dos mais inclassificáveis (e cativantes) músicos americanos do século XX. Uma vida pessoal atípica (a dada altura passava dias a fio, vestido com trajes à viking, numa esquina da 6ª Avenida) e uma obra dividida entre géneros e de fronteiras estilísticas difusas, que o viu caminhar entre os universos próximos da música contemporânea, as cercanias do jazz e gerou o entusiasmo dos melómanos mais atentos às franjas mais experimentais da cultura pop, talvez sejam algumas das razões pelas quais não seja ainda um nome de referência maior de nenhum dos cânones (tal e qual o são já alguns dos seus contemporâneos).
Depois de várias experiências, vivências e já com discos editados desde os anos 50, a vida (musical) de Moondog (1916-1999) mudou quando, em finais dos anos 60, um produtor musical – James William Guercio – reparou na sua presença na rua (onde tocava). Escutou a sua música e, entusiasmado, convenceu os executivos da Columbia Records a gravar dois discos para a o catálogo de música clássica. Abriu-se assim o caminho para a criação daquela que, apesar da expressiva e variada obra de Moondog é, talvez, a sua obra-prima.
Gravado com melhores condições de trabalho do que as que havia experimentado nos momentos técnica e financeiramente mais bem nutridos que a sua obra em disco havia conhecido em meados dos anos 50, Moondog é um disco que demonstra com uma dimensão clara e pungente, a visão total da música de Moondog. É um álbum no qual são evidentes os ecos de uma exposição à música orquestral do cânone romântico ocidental, mas que não ignora nenhuma das marcas anteriores da voz autoral de Moondog, de abordagem na percussão que não esquecia raízes mais profundas da cultura nativa norte-americana aos flirts com o jazz. De novo (e contemporâneo) há uma certa afinidade com uma ideia de música repetitiva, embora sem procurar as lógicas (nem a instrumentação eletrónica) então vigente entre os emergentes minimalistas. Não seria por acaso que, anos mais tarde, teria Philip Glass como um dos seus maiores admiradores.
Por razões promocionais, Moondog foi desafiado a mudar-se da esquina da rua 53 para a da rua 51 (na mesma sexta avenida), ficando assim mais perto dos escritórios da editora. A edição do disco e o impacte que obteve não mudaram, contudo, o seu estilo de vida. Mantinha então uma vida de rua, como de resto aconteceu noutras etapas da sua vida.
“Moondog”, que mostra na capa uma das mais icónicas imagens do músico, foi um acontecimento bem acolhido pela crítica. E chegou mesmo, na reta final de 1969, a atingir o sexto lugar na tabela de música clássica nos EUA.
“Moondog”, de Moondog, teve edição original em 1969 pela Columbia Masterworks. Em 1989 surgiu uma edição em CD que juntava no mesmo alinhamento este álbum e o disco “Moondog 2”, de 1971. Nos últimos anos têm surgido reedições em vinil do álbum original.
Da discografia de Moondog a pena descobrir discos como:
“Moondog and His Friends” (1953)
“H’Art Songs” (1978)
“The Viking of 6th Avenue” (2004) – Compilação
Se gostou, experimente ouvir:
Steve Reich
Terry Riley
Meredith Monk