Gravado em Paris em 1984 e originalmente apresentado numa edição em cassete que circulou entre a diáspora africana, o álbum “Djam Leelii” foi finalmente lançado em vinil e CD em 1989, revelando ao mundo Baaba Maal e o seu velho amigo guitarrista Mansour Seck. Hoje é reconhecido como um dos discos de referência na história da ‘world music’. Texto: Nuno Galopim
Tivesse ele seguido o caminho do pai e seria hoje um pescador, mas a família sonhava com um futuro diferente, tendo começado por insistir que estudasse direito. Não seria, contudo, nem pelo mar nem pelas leis que seguiria a vida do senegalês Baaba Maal (n. 1953) já que, incentivado por Mansour Seck, um amigo de infância, nascido numa família de griots (tradicionais contadores de histórias e de canções), optou por música. Começaram a tocar juntos e, em 1984, rumaram a Paris para gravar sessões das quais nasceria um disco, na forma de cassete, que obteve considerável sucesso entre a diáspora africana a viver na capital francesa. A essa cassete seguiram-se outras, conquistando atenções igualmente no Senegal. Até que, em finais da década de 80, num momento em que os espaços da world music conquistavam outro patamar de mediatização no mundo ocidental, essa velha cassete de 1984 conheceu primeira edição em vinil. Nascia assim Djam Leelii, álbum co-assinado por Baaba Maal e o seu velho amigo Mansour Seck.
Com um total de oito faixas cantadas em língua pulaar (falada sobretudo no vale do rio Senegal), o disco revela expressões mais próximas de ecos tradicionais do que o que escutaríamos em edições posteriores na obra de Baaba Maal que, sobretudo em álbuns como Firin’ In Fouta (1994) e Nomad Soul (1998), assinaria experiências de diálogo com músicas de outras culturas e geografias, seguindo afinal caminhos de cruzamento muito característicos ao que nos anos 90 dominou atenções nos terrenos das músicas do mundo. Djam Leelii, pelo contrário, limitava-se a juntar às vozes a presença de uma guitarra elétrica e os timbres mais “tradicionais” da cora (uma harpa-alaúde) e do balafon (um percursor do xilofone). Melancolia é talvez a palavra que mais bem descreve os ambientes de canções que traduzem trovas sobre distância e histórias de exílio e emigração. Minimalista e, podemos dizer, algo hipnótica, a música de Djam Leeli cativou atenções e gerou um fenómeno inesperado de sucesso, sobretudo através da edição internacional pela Mango Records.
A história deste álbum deve-se ao facto de uma das cópias da edição original em cassete ter ido parar às mãos de um colecionador, rapidamente conquistando um estatuto de raridade desejada e muito procurada, frequentemente sem sucesso. A estreia em palco de Baaba Maal no Reino Unido, em 1988, acentuou os entusiasmos das pesquisas, acabando a gravação multi-pistas original de parte das faixas, por ser encontrada em Dakar, dela resultando assim parte do som que gerou este lançamento em 1989. O resto do alinhamento proveio de outra sessão, anterior (ainda de 1984), igualmente então localizada.
A edição em disco de Djam Leelii e uma atuação triunfal de Baaba Maal e Mansour Seck geraram um verdadeiro momento de entusiasmo. Baayo (1991), o disco seguinte de Baaba Maal, lançado já de raíz no catálogo da Mango, não só continuaria a sua relação próxima com o guitarrista Mansour Seck como não se afastaria muito do espaço que exploravam nestas gravações de 1984 feitas LP em 1989. Lam Toro, em 1992, seria depois o disco de transição para os diálogos com outras músicas que chegariam logo a seguir.
Após longos anos ausente das lojas (salvo no circuito do colecionismo), uma reedição de Djam Leeli em 2012, com uma nova capa completamente diferente, juntou ao alinhamento não só três temas adicionais mas também um título em inglês: “The Adventurers”.