Kraftwerk “The Mix” (1991)

Em 1991, cinco anos depois de “Electric Café”, os Kraftwerk regressaram aos discos. E no lugar de um ‘best of’ fixaram um episódio de reflexão sobre o seu passado num novo disco que reinventava uma série de clássicos, em novas versões. Texto: Nuno Galopim

O silêncio que se instalou após a edição e promoção de Electric Café – que representou o episódio acolhido com menos entusiasmo na obra dos Kraftwerk desde os dias de Autobahn – não foi de inação, mas de profundas modificações técnicas nos equipamentos usados pelo grupo alemão. Ao decidir transitar para ferramentas digitais, o grupo – contando sobretudo com a ajuda do engenheiro de som Fritz Hilpert – iniciou o laborioso processo de transferência de todo o seu arquivo e registos para novas máquinas. No mesmo período o passo seguinte a dar começou a ganhar forma numa proposta alternativa ao mais clássico modelo do ‘best of’. As novas máquinas e as ideias que a música electrónica e formas mais contemporâneas de vários géneros entretanto iam revelando estimularam a criação de novas abordagens a um conjunto de temas originalmente compostos entre 1974 e 86. A vontade em fazer uma nova digressão – que como na que se sucedera à que acompanhou Computer World levaria para a estrada todo o estúdio, instalado em módulos portáteis – vincou mais ainda esta vontade de pensar uma coleção de novas visões para as suas canções.

O período que separou Electric Café de The Mix não viveu apenas episódios técnicos e artísticos. A progressiva insatisfação de Wolfgang Flur e Karl Bartos fez com que, por esta ordem, ambos abandonassem então o grupo. A extrema lentidão dos trabalhos e a ausência de uma agenda de acontecimentos, assim como a expressão reduzida que se revelara (face ao que sucedera nos anos 70) a discografia do quarteto na década de 80 justificaram muitos dos motivos que conduziram à cisão do line up clássico do grupo.

Quando The Mix surgiu finalmente, em 1991, da formação anterior já só estavam a bordo Ralf Hutter e Florian Schneider. O disco está contudo longe de ser uma expressão de um “melhor de”, tendo deixado de fora alguns clássicos maiores da obra do grupo como The Model, Showroom Dummies ou até mesmo Tour de France, que até aí não tinha ainda surgido no alinhamento de nenhum álbum. Pelo contrário, temas como Dentaku ou Metal on Metal – continuações naturais de, respetivamente, Pocket Calculator ou Trans Europe Express – visavam já um modelo de abordagem às composições que a digressão apresentaria pouco depois.

As grandes diferenças face aos temas originais mostram-se sobretudo na versão reduzida (ou, antes, compactada) de Autobahn, na leitura ritmicamente mais vibrante e atualizada de The Robots ou numa abordagem menos dúbia (nos significados) de Radio-Activity em cuja letra figuravam agora referências a Chernobyl, Sellafield, Harrisburg e Hiroxima, acentuando a visão política anti-nuclear que então se tornou clara.

Relativamente bem sucedido, The Mix gerou a edição de dois novos singles. Foram eles The Robots – em cujo teledisco se apresentavam os novos robots mais minimalistas – Radio-Activity, neste último alguns dos formatos incluindo uma remistura assinada por William Orbit.

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