Este é o número 34 da lista “100 Discos Daqueles que Raramente Aparecem nas Listas”…. Foi editado em 1970 e é um dos mais esquecidos entre os álbuns de Frank Sinatra. Criado em parceria com elementos dos Four Seasons é um disco concetual que pisca o olho à pop orquestral de então. Texto: Nuno Galopim

Tal como sucedera em finais dos anos 40, a reta final dos anos 60 não foi particularmente grata a Sinatra, sobretudo na relação do público com a sua música. O mais evidente sinal desse distanciamento ganhou forma num álbum editado em 1970, e no qual Sinatra ousava novas ideias e caminhos, mas que acabou por se revelar o maior flop comercial da sua discografia, dividindo muito as opiniões.
Criado em parceria com Bob Gaudio (elemento dos Four Seasons) e registado num método diferente do habitual, com a voz captada em estúdio já depois da orquestra gravada. O biógrafo Will Friedwald defende mesmo que “Watertown” é “um disco dos Four Seasons feito para Sinatra” , tanto que a maior parte equipa criativa ligada a este disco tinha já uma ligação ao grupo. Os Four Seasons – de New Jersey – tinham uma admiração enorme por Sinatra e foi Frank Valli quem um dia explicou ao cantor que a chave do seu sucesso eram as canções que Bob Gaudio compunha para eles. E logo veio a ideia, porque não poderia Gaudio compor para si, perguntou Sinatra. O desafio ganhou forma com Jake Holmes a juntar-se a Gaudio. Mostraram as primeiras quatro canções a Sinatra e, tendo este gostado do que escutou, elevou o desafio para o patamar seguinte: um álbum.
Foi Bob Gaudio quem então sugeriu a ideia da criação de um disco concetual. As canções falariam todas elas da vida numa pequena cidade. Sinatra só deu conta do conceito quando ouviu as maquetes. A orquestra foi gravada em julho de 1969 enquanto, ao seu ritmo, Sinatra ia assimilando as novas canções. O processo foi moroso, com Gaudio a remisturar depois as gravações da orquestra e o próprio Sinatra a trabalhar sobre a voz que depois gravou. O projeto previa originalmente a criação de um especial de televisão além da edição do álbum. Porém Sinatra optou por lançar apenas o LP, decisão que pode ter representado a primeira razão pela qual “Watertown” acabaria mais longe das atenções do que o sucedido com alguns dos seus discos mais recentes.
Hoje podemos reconhecer “Watertown” como, de certa forma, um parente próximo da visão pop/rock orquestral que Scott Walker tinha vindo a talhar a solo na sucessão de discos que lançara entre 1967 e 69. Tematicamente coeso, traduzindo mesmo a ideia concetual de uma narrativa (com cenário e personagens bem definidas) que as canções definem de fio a pavio, é um disco de canções que, sem voltar costas a heranças da obra de Sinatra e algo esquecido, é um dos grandes momentos da pop orquestral na fronteira entre os sessentas e setentas e um importante espaço de diálogo entre um certo classicismo que Sinatra representava e os caminhos da cultura pop/rock que ele nunca abraçou em pleno, mas aos quais aqui piscou, e bem, o olho.
“Watertown” teve edição original em 1970 pela Reprise. As reedições em CD chegaram nos anos 90, juntando ao alinhamento “Lady Day”, tema que ficara excluído do alinhamento original. Pouco depois surgem novos lançamentos remasterizados. Por ocasião do centenário de Frank Sinatra este LP, tal como muitos outros da sua discografia, conheceram reedição em vinil.
Da discografia de Frank Sinatra a pena descobrir discos como:
“In The Wee Small Hours” (1955)
“Frank Sinatra Sings for Only The Lonely” (1958)
“September of My Years” (1965)
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