Este é o número 35 da lista “100 Discos Daqueles que Raramente Aparecem nas Listas”… Foi editado em 1970 e representou a estreia de um cantautor americano quase ignorado, mas que obteve sucesso colossal na África do Sul. Contudo, só foi devidamente (re)descoberto com um documentário sobre a sua vida estreado em 2012. Texto: Nuno Galopim

Descendente de emigrantes mexicanos, ativista político e figura ligada à cena musical de Detroit em finais de 60 e inícios de 70, Sixto Rodriguez estreou-se com um primeiro single em 1967 e, três anos depois, via um primeiro álbum nascer entre as imediações de terrenos da Motown (por via dos músicos e editores envolvidos). Tinha por título “Cold Fact” e colocava em cena um cantautor de ascendência folk (na linha Dylanesca) mas com visão alargada a desafios cenográficos maiores (logo no tema Sugar Man, que abre o alinhamento, notamos a presença de eletrónica, por exemplo).
Os arranjos refletiam uma presença tanto de cordas à la Burt Bacharah como de ecos da ainda recente cultura psicadélica, por caminhos com alguma familiaridade com o que podemos recordar nuns Love, e até mesmo alguma presença de ecos do garage rock de então. Fluxos de consciência habitavam canções que o colocavam como observador do seu tempo e do seu lugar no mundo, focando atenções em olhares sobre a sociedade e sobre a sua própria relação com os outros… Mas na altura ninguém pareceu interessado em ouvi-lo, igual resposta cabendo ao segundo álbum, lançado um ano depois. Na verdade, depois desses discos fez-se um tremendo silêncio.
Em 1998 o músico, que muitos julgavam morto, apresentou-se ao vivo num velódromo apinhado de gente na Cidade do Cabo (África do Sul), meses depois de ser realmente (re)descoberto por um jornalista… Sixto fora, para quase todos, um músico invisível durante quase 30 anos. E agora eis que estava ali perante uma plateia num território onde, sem que ele o soubesse, se tinha transformado numa lenda. E porquê? Porque na África do Sul os seus discos tinham gerado um verdadeiro fenómeno de sucesso (criando até toda uma mitologia) que o relativo isolamento cultural que o país viva face ao resto do mundo nos dias do apartheid impedira que o próprio Sixto o soubesse (e aqui vale a pena perguntar… então não recebera direitos por estas vendas?)…
A história da (re)descoberta de Rodriguez foi contada em “Searching For Sugar Man”, filme de Malik Bendjelloul que arrebatou prémios a fio desde que foi estreado em Sundance em janeiro de 2012, vencendo até um Oscar para Melhor Documentário, devolvendo assim a um merecido patamar de visibilidade um cantautor que a sorte não bafejou na altura certa, transformando os seus dois álbuns (editados entre 1970 e 71) e a banda sonora com as canções deles retiradas para servir este filme, em verdadeiros fenómenos de (justificada) aclamação já no século XXI.
“Colf Fact” teve uma edição original nos EUA em 1970 pela Sussex e logo depois conheceu lançamentos pela A&M em territórios como a Austrália, Nova Zelândia e, em 1971, a África do Sul. A primeira edição em CD ocorreu na África do Sul, em 1991. Houve reedições antes da estreia de “Search For Sugar Man”, assim como Sixto deu concertos na Oceania bem antes do filme… Mas foi de facto com o documentário que mais lançamentos em vinil e CD chegaram nos últimos anos.
Da discografia de Rodriguez a pena descobrir discos como:
“Coming From Reality” (1971)
“Alive” (1979)
“Searching For Sugarman” (2012) – banda sonora
Se gostou, experimente ouvir:
Tim Buckley
Nick Drake
Donovan
Fabuloso. Raro encontrar alguém que conheça a história de Jesus ( ou Sixto) Rodriguez. Adoro o trabalho dele. Parabéns pelo artigo, que me chegou via Nuno Leal ( não sei se ainda te lembras de mim). Abraço.
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