É músico, com obra que passa por bandas como os Raindogs, Cello ou Corsage. Melómano reconhecido e colecionador de discos, apresenta também DJ sets… Mas hoje fala-nos da sua coleção de discos.

Qual foi o primeiro disco que compraste?
Não sei se terá sido o primeiro, mas foi de certeza um dos primeiros: “Searching For The Young Soul Rebels” dos Dexys Midnight Runners. Este meu gosto pela new wave devo-o ao meu amigo, do Miratejo (que já não está entre nós), Delfim aka “Joe” , que me deu a conhecer os Dexys, Devo, Elvis Costello, Dr. Feelgood e naturalmente o Joe Jackson. Depois veio o Blitz (Spandau Ballet, Visage, … ), o Post-Punk (Joy Division, Durutti Column, … ), mas sempre privilegiando a pop, as canções e o som de vanguarda.
E o mais recente…
Já perdi a conta… Uma caixa com 5 CD dos The Chords. E ainda: Benjamim Biolay, Jarvis Cocker, Psychedelic Furs, Paul Weller, Baxter Dury, The Reflectores e por aí fora… A caminho, alguns álbuns dos The Divine Comedy em vinyl, as edições, em CD e vinyl, da compilação Mod Revival com a selecção de Eddie Piller. Style Council, …
O que procuras juntar mais na tua coleção?
Principalmente vinyl 12”, 7” e CD já em menor número. Em vinyl 12”, novos e alguns que ainda me faltam, na colecção de determinadas bandas do Mod Revival e também de música portuguesa de Pop Rock dos anos 80 (aqui já só me faltam 2 ou 3 de bandas do norte). Algumas edições recentes/novidades de músicos que acompanho desde sempre e coisas novas que vou descobrindo. Aqui o Mod Revival/Powerpop estão na linha da frente. Em vinyl 7”, essencialmente singles ou EP com capa genérica (são mais baratos) de Northern Soul, Mod Jazz, Ska ou Rhythm and blues para os meus, cada vez mais raros, Djset!!!! Djset esses que na verdade nunca foram muitos e apenas comecei esta actividade há cerca 20 anos.
Um disco pelo qual estejas à procura há já algum tempo.
Em vinyl 12” existem alguns e até já os encontrei só que a preços que não posso nem devo chegar!!! O sete polegadas “Green Onions” de Booker T. And The M.G.’s* de 1962, por exemplo. Normalmente nestes casos espero por uma boa reedição. Foi o que aconteceu com os primeiros álbuns dos Divine Comedy ou dos The Coral, por exemplo.
Um disco pelo qual esperaste anos até que finalmente o encontraste.
Não foi um disco mas uma cassete, e curiosamente de uma banda minha, do álbum “From Today” dos Raindogs só editada na Ucrânia. Esperei cerca de dois anos para que aparecesse à venda na Discogs. O álbum é de 1999 e a cassete é de 2003. Só soube desta edição por volta de 2010!!!
Junto a esta cassete 3 discos: “The Story Of Simon Simopath” dos Nirvana de 1967, “The Five Faces Of Manfred Mann” dos Manfred Mann de 1964 e compilação ”Strength Thru oi!” de 1981.
Limite de preço para comprares um disco… Existe? E é quanto?
Existe sim, mas muito raramente cheguei ou ultrapassei os 50€, isto para um LP, vinyl 12”, para os singles ou EP, vinyl 7” os 20€, para CD também os 20€.
Lojas de eleição em Portugal…
Discolecção, Groovie, Louie Louie, Flur, Vinil Experience e Glamorama, em Lisboa. No Porto, a Porto Calling, embora já tenha comprado noutras lojas mas através dos sites e em Almada a Drogaria Central. No resto do país não tenho por hábito visitar lojas de discos.
A tua coleção influencia-te como músico?
Naturalmente que sim. Ouço inúmeras vezes os discos que compro e deles retiro ideias para compor, não para a forma como toco, essa sai-me naturalmente. Tenho até por habito tocar por cima de uma qualquer canção de que goste e não seguir o que está feito mas “inventar” algo de novo.
Como te manténs informado sobre discos que te possam interessar como colecionador?
Sites de editoras e distribuidoras, a Discogs (principalmente) , em algumas lojas de discos e através de alguns amigos.
Que formatos tens representados na coleção?
LP vinyl 12”, vinyl 10”, Maxis vinyl 12”, vinyl 7” singles/EP, CD e algumas cassetes. E tenho um Laserdisc (o chamado CD gigante de 12”) dos Specials (edição Japonesa) que nunca o ouvi.
Os artistas de quem mais discos tens?
Paul Weller (inclui The Jam e Style Council) Paul Heaton (inclui The Housemartins e Beautiful South ), Joe Jackson , Kevin Rowland (inclui Dexys) The Who (inclui,The High Numbers, Roger Daltrey, Pete Townshend, …), Small Faces, Kinks, Television Personalities (inclui The Times, ‘O’ Level, Teenage Filmstars, …) Damon Albarn (inclui, Blur, The Good, The Bad & The Queen, Gorillaz, Africa Express, …), Madness ( inclui, Suggs, The Nutty Boys, The Lee Thompson Ska Orchestra, …), The Specials (inclui, Terry Hall, The Colourfield, Fun Boy Three, Vegas, …)
E também: The Stranglers (inclui JJ Burnel, Hugh Cornwell, …) Killing Joke, The Smiths (inclui Morrissey e Johnny Marr), Death In June, Laibach, Edwin Collins, Durutti Colum, Joy Division/New Order, Calexico, Tom Waits, David Bowie…
É uma lista que nunca mais acaba!!!
Editoras cujos discos tenhas comprado mesmo sem conhecer os artistas…
Factory Records, Detour Records e Time For Action.
Uma capa preferida.
“Look Sharp” de Joe Jackson. Tenho, curiosamente, quatro edições diferentes: em vinyl 12” (edição UK e a portuguesa) , 10” e em CD.
Um disco do qual normalmente ninguém gosta e tens como tesouro.
Não sei!!! Há sempre alguém que gosta… Talvez o “Madness, Money And Music” da Sheena Easton!!!
Como tens arrumados os discos?
O vinyl LP, por géneros, artistas e ordem alfabética e só o fiz há cerca de uns 4 meses.
Pop-Rock (inclui Pop, Rock, Post-Punk, Electrónica, Kraut …)
New Wave (inclui powerpop)
Ska (Inclui, Skinhead Reggae, Two Tone, …)
Punk (inclui Oi!)
Musica Portuguesa
Musica Francesa (Inclui 60’s, Pop, Post-Punk, Oi! e Ska)
60’s (inclui mod Jazz, Soul, Pop, Rhythm and blues, …)
Mod Revival
Os 7”, singles e EP, estão em caixas, por géneros, artistas e ordem alfabética, mas nem sempre estão arrumados como deve ser. Os CD, estão só arrumados por géneros e artistas. Já tem acontecido procurar um e só o encontrar um mês depois, e há dois que ainda não os encontrei, passados três anos: um dos Madness com demos do álbum “Oui Oui Si Si Ja Ja Da Da” e o “Long Time Gone” do Paul Collins’ Beat.
Um artista que ainda tenhas por explorar…
Moondog e Marvin Pontiac por exemplo.
Um disco de que antes não gostasses e agora tens entre os preferidos.
Assim de repente lembro-me, não de um disco mas de uma banda, The Triffids. Quando os ouvi pela primeira vez não me agradaram, mas hoje tenho uma vasta colecção deles, em vinyl e CD, e de todas ou quase todas as bandas e discos em que o David McComb participou. Há discos e artistas de que não gostava, ou não dava importância. Hoje gosto mas não figuram nos meus preferidos.
Que discos dos teus são já peças de colecionador?
Tenho alguns discos “valiosos” que quase não se encontram à venda e se aparecem chegam aos três algarismos. Não tenho por hábito e quase nunca o faço, que é ir ver quanto valem os discos que tenho. Pouco me importa. Tenho aquilo de que gosto, ou gostamos lá em casa. Um dia ficarão para as minhas filhas.
Há discos que fixam histórias pessoais de quem os compra. Queres partilhar um desses discos e a respectiva história?
Aconteceu-me uma vez, em 1984, ao ouvir o Som da Frente, o António Sérgio, com aquela sua voz característica e por vezes difícil de entender na perfeição o nome das bandas ou das canções, ter anunciado uma canção dos Go-Betweens do álbum “ Spring Hill Fair” que eu entendi Cocteau Twins (mais tarde reconheci que foi mais burrice da minha parte e uma certa distração que é comum em mim) fui a Lisboa, no dia seguinte comprar esse novo álbum dos Cocteau Twins “Treasure” (pensado que era o que ele tinha passado na rádio), também de 1984, a uma discoteca que ficava no último piso do prédio de esquina da rua Nova do Almada com a rua Garrett que ardeu no incêndio do Chiado de 1988 [nota do GiRA DiSCOS: era a loja de discos dos armazéns Eduardo Martins]. Quando cheguei a casa para o ouvir dei com um álbum, por sinal muito bom, todo ele cantado por uma voz feminina. Eu intrigado ouvi-o de uma ponta à outra à procura da tal canção cantada por um homem e nada. Só uns meses depois é que soube que ele se referia aos Go-Betweens!!!
Um disco menos conhecido que recomendes…
O álbum de estreia dos The Reflectors. É para mim um dos álbuns de 2020. Curiosamente, tenho em vinyl 12” e em CD. É uma banda norte americana de punk/powerpop de canções que nos fazem viajar aos Buzzcocks ou The Jam, por exemplo.
A tal loja no último andar, onde comprou o disco dos Cocteau Twins, era a discoteca dos Armazéns Eduardo Martins – e não Jerónimo.
GostarGostar