Depois de duas primeiras datas em agosto e setembro, decorre hoje o terceiro ‘drop’ de uma edição do Record Store Day dividida em três partes. Fazemos um percurso pelas lojas e depois refletimos sobre o modelo posto em prática este ano. Texto: Nuno Galopim

É um ano diferente. E por isso o Record Store Day (RSD) sugeriu um modelo diferente. Começou por estar apontado, como sempre, para o mês de abril, mas o confinamento generalizado vivido na primavera obrigou a um primeiro adiamento, acabando na verdade por surgir depois uma agenda dividida em três datas. A cada uma chamou-se ‘drop’, realizando-se entre agosto, setembro e outubro. Hoje assinala-se o terceiro drop. E entre as lojas portuguesas como vai ser… Como sempre fizemos uma ronda. E aqui ficam algumas pistas…
Não é só lá fora que há novas edições. E em Lisboa a Groovie Records avança que vai ter “ter discos novos, um deles a nova edição” da sua própria editora: o LP do Trio Ternura “que acabou de sair e estará este sábado à venda”, revela Edgar Raposo.
Na Vinyl Experience, Jota Cunha observa ao GiRA DiSCOS: “aainda tenho discos da ed. RSD deste ano”. E hoje “vai haver promoções, claro”… A loja “vai funcionar das 10.00 às 17.00” e “a seguir a festa contínua na Casa do Capitão com Asimov, Clementine e Acid Acid. , CLEMENTINE e Acid Acid… Sobre Asimov, Jota Cunha nota que esta “é a primeira vez que tocam depois da saída de Flowers que tem o selo Vinyl Experience Records”.
A Jazz Messengers volta aderir ao RSD. E com alguns discos em destaque: Dexter Gordon Quarter Live in Châteauvallon 1978 (Elemental), Jimmy Giuffre 3 Graz 1961 ( ORG Music) ouMiles Davis: Double Image – Rare Miles from The Complete Bitches Brew Sessions, são exemplos. Carla Aranha diz-nos que haverá “descontos e ofertas especiais e ainda DJ set”.
Também em Lisboa, Luís Fundo conta que a Do Vigário vai “ter novidades”, mas diz-nos que “o melhor é ver o insta ou Facebook” da loja. Mas nota: “O RSD não existe propriamente aqui. Fazemos a cerimónia porque gostamos”.
Com uma loja acabada de inaugurar em Lisboa e com os espaços já habituais no Porto, Braga e Leiria, a Tubitek volta a apostar em força no RSD. Para o terceiro “round” do RSD 2020, as lojas TUBITEK vão oferecer, uma vez mais, alguns dos títulos programados para esta data. José Augusto Soares conta que vão dar “bastante destaque aos discos de Lou Reed/John Cale – “Songs For Drella”, Miles Davis – “Double Image”, Dexter Gordon – “The Squirrel”, Cheap Trick – “Out To Get You live 1977”, OST – “The Virgin Suicides”, Rolling Stones – “Metamorphosis”, The Pineapple Thief – “Uncovering The Tracks”, entre alguns mais. “A banda sonora das lojas será adequada” aos lançamentos deste “drop”.
No Porto, Miguel Valongo, da Discos do Baú, conta que “apesar de não haver nenhum lançamento na loja”, “todos os clientes” que ali aparecerem hoje “terão um desconto de 10% em todos os discos”.
Tal como aconteceu em agosto e setembro, a Lucky Lux, em Coimbra, tem uma vasta oferta de edições especiais que hoje são lançadas. Rui Ferreira revela-nos que vai ter: Lou Reed/John Cale – “Songs For Drella”, Miles Davis – “Double Image: Rare Miles From The Complete Bitches Brew Sessions”, Frank Zappa – “You Can’t Do That On Stage Anymore”, Johnny Cash – “Classic Cash: Hall Of Fame Series – Early Mixes”, The Rolling Stones – “Metamorphosis”, Rory Gallagher – “Cleveland Calling”, Thin Lizzy – “Chinatown”, Young Fresh Fellows – “Toxic Youth”, Alejandro Escovedo – “La Cruzada”, Fleshtones – “Face Of The Screaming Werewolf”, as bandas sonoras de “Virgin Suicides” e “Austin Powers” e os singles de Beck/St. Vincent – “No Distraction / Uneventful Days-Remixes” e de Eminem – “My Name Is”.
Com as portas abertas desde setembro, a portuense Music & Riots adere hoje pela primeira vez ao RSD. Sobre a oferta da loje, Rui Correia revela ao GiRA DiSCOS: “Teremos disponíveis álbuns novos de Adrianne Lenker, Clipping, Loma Skullcrusher, Sparkle Division (William Basinski), This Is The Kit. Ainda da última semana há também o novo de Kevin Morby”. A Music & Riots sugere ainda “belíssimas reedições lançadas este ano de artistas como Chavez, Deafheaven, The Fall, entre outros” e sugere ainda “artigos muito limitados lançados recentemente como Anna Von Hausswolff, Death Bells, Lucrecia Dalt, Mary Lattimore, Ulver, entre tantos outros artigos mais difíceis de encontrar noutras lojas”. Todos os artigos “têm desconto de 10% neste RSD”.
No Algarve, as lojas Gato Maltês em Olhão e Loulé vão ter propostas distintas, com “mais de uma centena de discos, entre novos e usados”, diz Marco Lampreia ao GiRA DiSCOS., notando que “os novos vão estar no Gato Maltês de Loulé, onde há um conceito não só de loja, mas de DJ & Dinner e os usados no espaço em Olhão”. Entre as novidades, destaca “as reedições de Can, Sonic Youth e 13th Foor Elevators”. Nos usados há “para cima de uma dezena de Pet Shop Boys, The Style Council”. No plano das iniciativas há “o BYOV, sob a batuta do “Discossauro”, em Olhão, hoje (das 16.00h às 18.30h)” e, depois do DJ & Dinner com a “Caroline Lethô”, na noite de ontem, hoje é servido por David Sabino, “a partir das 20.00 até ao legalmente possível”.



Este é o panorama para hoje… Mas já que estamos em dia três de uma iniciativa em três partes, e mesmo sendo para já impossível fazer uma avaliação do que hoje vai acontecer (ainda não temos bolas de vidente), podemos mesmo assim questionar as lojas sobre o modelo posto em prática este ano. Assim sendo, e em tempo de balanço, o que dizem as lojas do que foi o RSD num ano diferente? E em particular sobre a sua divisão em três datas distintas?
Edgar Raposo, da Groovie Records, é conciso na resposta: “Balanço… Estamos numa época em que tudo é anormal, tem sido dias normais enquadrados com a situação”. Jota Cunha, da Vinyl Experience é igualmente sucinto: “Não concordo com os três dias . O RSD é um dia por ano… não acrescenta nada”. José Moura observa que “os discos que as pessoas procuram estão fora do universo” da Flur, “e as poucas edições RSD que em anos anteriores” conseguiram “não são sexy para o público em geral”. A Flur, que está a preparar a sua mudança para outras instalações, vai por isso “abrir normalmente e esperar que quem se sinta motivado a apoiar lojas de discos o faça não apenas por causa das edições especiais ou saldos”. E sublinha: “Quanto a nós, isso sempre foi uma deturpação do que parecia ser o espírito original da iniciativa”.
José Augusto Soares, da Tubitek, defende que “este modelo de celebração desvirtua (de certo modo) o principio para o qual foi fundado”. E continua: “Independentemente da situação anormal que nos assola (são particamente quatro eventos seguidos a contar com o RSD Black Friday de novembro próximo), fizeram-se avultados investimentos no stock das lojas mas o retorno não traduz esse esforço. No entanto, estas ações foram muito positivas, principalmente no que respeita à rotação de clientes nos nossos espaços”. E, sublinha: “foram muitas as “idas à loja”. Nota-se por isso “que os melómanos são mais assertivos e criteriosos na sua escolha e, como se entende, vão dando primazia a alguns títulos, preterindo outros por questões financeiras”.
Uma opinião bem favorável face ao RSD e às suas propostas é a de Carla Aranha, da Jazz Messengers que faz um “balanço positivo”, sublinhando que deste modo, e num “ano atípico, conseguiu criar-se confiança e sensibilização para a necessidade de apoiar as lojas indie”.
Rui Ferreira, da Lucly Lux, loja que foi acompanhando as edições especiais do novo modelo do RSD em vigor este ano conta que o drop “de agosto foi o que teve mais edições e por isso o que exigiu maior investimento”. Para as edições de setembro e sutubro “não houve tempo para recuperar o investimento da primeira fase e deixou pouca margem para investir nas fases seguintes”. O modelo de várias fases “poderia funcionar se fosse trimestral. E acrescenta ainda, tal como acima foi já observado: “não podemos esquecer que em novembro há nova iniciativa do RSD, o Black Friday”.
Para Miguel Valongo, da Discos do Baú, “o facto de ser em três drops faz perder um pouco o objetivo do que deve ser um RSD mas isso também já não é bem o que era! Poucas coisas chegam cá para esse dia quanto mais três”. Mas, e como remata, “no momento que vivemos é o possível”.
Marco Lampreia, das lojas Galto Maltês (Olhão e Loulé) o RSD “é uma iniciativa que traz ao de cima a música e dá alguma visibilidade”. Mas, continua, “os lançamentos frenéticos de reedições e invenções de discos mostram cada vez mais o cariz mercantil de uma boa iniciativa”. No Gato Maltês não há “qualquer reedição deste género”, nem a loja teria “capacidade para acompanhar esses lançamentos” visto estarem “longe das grandes cidades”, logo têm que deixar esse papel “para as grandes superfícies”. Sobre “esta versão em três” comenta que “parece ir no sentido negativo” que acima referiu, ou seja: “se estás longe de grandes cidades vês crescer as secções das grandes superfícies que até agora não tinham vinil”.
Em Aveiro Rui Mateus, da X&R Records, explica que se desinteressou do RSD “há muito tempo”, apontando-o como uma ideia “que está desvirtuada relativamente à original” e sublinhando que “só serve para a especulação desenfreada das edições” especiais, e que não entra “por esse caminho”. E acrescenta ainda: “Quando grandes superfícies multinacionais também têm acesso às edições do RSD está tudo dito”. Por isso mesmo a loja não vai “ter iniciativa nenhuma em especial”, diz-nos Rui Mateus, lembrando que “faz regularmente promoções”.