Editado dois anos depois de Amina ter representado a França na Eurovisão com “C’est Le Dernier A Parler”, o álbum “Wa Di Yé” vincou uma vontade em dialogar com outras músicas que então caracterizava o fenómeno da ‘world music’. Texto: Nuno Galopim

Filha de um tunisino e de uma francesa, Amina Annabi nasceu em Cartago em 1962. A sua era uma família de músicas, com a sua avó e tios diretamente envolvidos com a produção do Festival de Tabarka, o que lhe permitiu desde cedo um convívio com músicos e diversas expressões musicais. Foi no festival que conheceu o músico senegalês Wasis Diop, com o qual acabaria por trabalhar mais tarde depois de se mudar com a mãe para Paris, o que aconteceu em 1975.
Foi precisamente ao lado de Wasis Diop que assinou a autoria de C’est Le Dernier A Parler Qui A Raison, canção que levou ao Festival da Eurovisão em 1991, num momento de afirmação de uma carreira a solo na música (tinha colaborado com Bertolucci em Um Chá No Deserto e participado num projeto de Peter Gabriel no ano anterior). A canção, que transportou para o palco eurovisivo sonoridades da música árabe então ali pouco habituais, acabou a noite empatada com a banal canção sueca que, pelos critérios de desempate da EBU, acabou por ser considerada a vencedora. E não só C’est Le Dernier A Parler Qui A Raison é uma das melhores canções apresentadas em toda a história do concurso, como esta foi uma daquelas ocasiões em que o palmarés da história eurovisiva deixou passar ao lado, e por um triz, um episódio de exceção. Enfim…
Antes de ler tevado C’est Le Dernier A Parler Qui A Raison ao palco na Cinecittá (onde decorreu o Festival da Euroviaão de 1991), Amina tinha já gravado colaborações com Afrika Bambataa, Caroline Loeb ou Haruomi Hosono (da Yellow Magic Orchestra), iniciado uma carreira em paralelo no cinema (um dos seus primeiros papéis foi em Um Chá No Deserto, de Bernardo Bertolucci) e lançado em 1990 um álbum de estreia.
Sob um perfil de maior visibilidade Amina apresentou em 1993 um segundo álbum em nome próprio que, um pouco como o ainda então recente Beauty (1990) de Ryuichi Sakamoto, procurava encontrar caminhos novos de diálogo entre os espaços da world music e uma nova identidade urbana, cosmopolita e contemporânea. Com Wasis Diop na produção e colaborações de peso como as do baterista Tony Allen e do violinista Wasis Diop, Wa Di Yé (que podemos traduzir como “o amor é único”) cruza ambientes, sonoridades e formas da música magrebina com eletrónicas e padrões rítmicos que faziam então a linha da frente da invenção ocidental.
Expressão evidente de uma modernidade sem fronteiras que tomava então Paris como uma das mais cosmopolitas capitais da produção discográfica das várias latitudes das músicas africanas, Wa Di Yé é também exemplo maior de uma etapa de busca de diálogos entre linguagens e geografias que caracterizou algumas frentes da world music em inícios dos anos 90.
Depois de Wa Di Yé Amina colaborou com Malcolm McLaren em Paris (1994), editou o álbum Annabi (1999) e a antologia Nomad (2001), passando então a concentrar sobretudo a sua atenção no cinema, assinando apenas edições pontuais como foi o caso de Unveil, um EP editado em 2015. Uma visita à página de Amina no Spotify mostra o desnorte da arrumação que por vezes habita esta plataforma, juntando ali discos que nada têm a ver com Amina Annabi.