Ao que parece terá nascido nas mãos de um produtor de ‘disco’ em 1974. Mas a história tem antecedentes… E continua viva ainda hoje. Com uma vida focada na pista de dança, mas com uma etapa de grande mercado vivida nos anos 80, este é… o máxi-single. Texto: Nuno Galopim

Cada suporte físico tem uma génese distinta. E o máxi-single – ou se preferirem o single com doze polegadas de diâmetro – nasceu a pensar na pista de dança. Na verdade ao que parece a sua génese deve-se a um acaso ocorrido em 1974. Um acaso feliz podemos acrescentar. O produtor Tom Moulton, o mesmo que assinaria depois, em 1975, a ideia de uma mistura contínua para as faixas do álbum Never Can Say Goodbye de Gloria Gaynor, era já conhecido por pensar a adequação das misturas das canções (de disco sound sobretudo) para a pista de dança quando, com um trabalho em mãos e sem material de sete polegadas para fazer um corte e depois uma prensagem de teste, optou por alargar as espiras e fixar o tema num suporte de doze polegadas (que habitualmente seria atribuída a um álbum). E assim nasceu um máxi-single…
A gestão do espaço no vinil permitiu ali fixar não apenas misturas mais longas (ideais para a pista de dança), mas também o espaçamento das espiras entre si e o modo como os sulcos podiam ser abertos no espaço de um doze polegadas aumentaram a qualidade dos sons, sobretudo a fidelidade dos baixos e das batidas, uma vez mais vincando um cocktail de qualidades a que o circuito dos DJ rapidamente aderiu. Fica uma pergunta ainda por esclarecer… Que máxi foi então o primeiro? Tom Moulton, segundo o Discogs, terá dito que se terá tratado de uma mistura do tema I’ll Be Holding On de Al Downing… Mas ao que parece há quem conteste esse facto… O certo é que essa prensagem foi um teste – ou seja, não teve um destino comercial – e se algum dia surgir no circuito do colecionismo será certamente coisa disputada a valores pouco discretos…
A ideia da prensagem de edições especialmente destinadas à pista de dança na verdade antecede este momento de “eureka” protagonizado nos anos 70 por Tom Moulton. Desde o advento do vinil como suporte para uso em discos havia já na Jamaica um hábito de criar edições expressamente pensadas para os antecessores dos sound systems. E em início dos anos 70 houve primeiros ensaios de prensagens de singles de 12 polegadas. Em 1970 a editora Cycle (ligada à Ampex, uma companhia sobretudo conhecida pelas suas fitas magnéticas) criou uma edição promocional em 12 polegadas de Glad Rag Doll de Buddy Fite. E em 1973 a editora do próprio Swamp Dog lançou em 12 polegadas um promo de Straight From My Heart. O “teste” acidental de Tom Moulton chegou contudo na hora certa à música certa no contexto certo… E entre os DJs que então levavam o disco sound às pistas de dança, o formato do “máxi” de 12 polegadas proliferou. E antes de se lhe chamar máxi single ou disco de doze polegadas (como seria vulgar pouco depois), nos primeiros tempos, e fruto do universo e da música que neles se ouvia, estes discos eram conhecidos como disco disks.
Tom Moulton e o não menos visionário Mel Chereen (fundador da West End Records, outra das grandes “casas” editoriais do disco sound) apostaram no formato… E em pouco tempo a oferta aumentou em quantidade e na variedade de soluções ali prensadas. Até aqui era o DJ quem, “ao vivo”, podia criar versões longas das canções, usando ou dois singles iguais ou usando singles com versões diferentes da mesma canção, como foi o caso de We’re On The Right Track, do projeto Ultra High Frequency (1973), cujo single incluía uma versão instrumental no lado B. Com o advento do doze polegadas a ideia de uma versão longa podia estar já criada de origem no espaço disponível em disco. E consta que It Only Hurts Me Girl, dos norte-americanos The Carstairs, originalmente lançado em 1973, terá sido o primeiro tema a conhecer uma mistura longa talhada já para o novo suporte alguns meses depois, já em 1974. Vale a pena apontar que nem todas as versões longas surgiram em suportes de 12 polegadas, tendo havido editoras que então optaram antes por lançar os seus “máxis” em discos de dez polegadas (um formato sobretudo usado para álbuns a 33 rotações em França nos anos 50 e 60).



As primeiras prensagens em doze polegadas correspondiam sobretudo a edições promocionais diretamente apontadas ao circuito dos DJs. A partir de 1976, e perante um aumento de popularidade do disco (mesmo assim ainda longe do furor que chegaria um ano depois) abriu espaço a primeiras edições comerciais. E o primeiro doze polegadas com lançamento comercial terá sido Ten Percent dos Double Exposure, lançado em maio de 1976. Seguiu-se Nice and Slow de Jeesee Green. E logo a seguir Summertime 2001 de George Benson.
Na década de 80 o “máxi” ganhou um lugar nos planos de lançamento de praticamente todos os singles de artistas, não apenas nos circuitos mais focados na música de dança, mas igualmente em terrenos pop e rock, havendo até ocasiões em que o formato de 12 polegadas foi o único para lançar um single (como aconteceu, por exemplo, com Blue Monday dos New Order em 1983).
Se alguns dos singles conheciam assim versões longas, remisturadas, houve também edições que encararam o formato do doze polegadas como uma nova forma de editar EPs, ou seja, o formato a 45 rotações com mais do que apenas duas canções que tinha feito história sobretudo nos anos 50 e 60. Um exemplo? Into Battle With The Art of Noise, o disco que assegurou a estreia dos Art Of Noise (via ZTT Records) em 1983.
Com o progressivo apagamento do mercado do vinil, sob o crescimento do CD, que se verificou nos finais de 80 e nos anos 90, o máxi-single de 12 polegadas foi na verdade o suporte em vinil que mais bem resistiu às transformações em curso. Se os singles e os álbuns passavam a ser apresentados em formato de CD Single e CD, já os máxis em vinil, sobretudo nos universos da músida de dança, não deixaram que o vinil desaparecesse do mapa. O ressurgimento mais recente do vinil, primeiro pelo colecionismo e depois com a criação de um novo nicho de marcado, diluiu um pouco a visibilidade do doze polegadas entre as ofertas mais populares… Mas entre lojas com discos usados e outras atentas às necessidades dos DJs, o doze polegadas ainda respira boa saúde.