Simone de Oliveira “A Voz e os êxitos” (1966)

Editado em 1966, quando a esmagadora maioria das discografias ligadas à canção ligeira se fazia sobretetudo no formato do EP (a 45 rotações). “A Voz e os Êxitos” corresponde mesmo a um dos primeiros LPs da canção ligeira portuguesa. Texto: Nuno Galopim

Este texto é o sétimo de uma série abordagens a álbuns da música portuguesa que ou estão ainda guardados apenas na memória do vinil. ou não costumam ser apontados como os títulos de referência dos respetivos autores ou até são por vezes ignorados em listagens dos mais representativos do seu tempo. Todos eles, contudo, são discos a ter em conta para contar as histórias de quem os fez e do período em que foram gravados e editados. Este foi o primeiro álbum de Simone de Oliveira. Com uma foto de Augusto Cabrita na capa, comunicava a solidez de uma carreira que era já reconhecida como uma das mais firmes da canção ligeira portuguesa de então.

Referência maior na história da canção ligeira portuguesa, Simone de Oliveira (n. 1938) deu os primeiros passos na música ao frequentar o Centro de Preparação de Artistas da Emissora Nacional em finais dos anos 50. Começou por cantar nos programas de Mota Pereira e estreou-se frente a uma plateia em janeiro de 1958, ano em que edita o seu primeiro EP.

A sua discografia na década de 60 é extensa e envolve sobretudo o formato do EP, incluindo tanto canções originais para si criadas como versões em português de temas de sucesso em discos e filmes internacionais. Representou Portugal na Eurovisão por duas vezes, a primeira das quais com “Sol de Inverno”, em 1965). Mas por essa altura a sua obra em disco incluía já uma série de temas que hoje podemos entender como “clássicos”, entre os quais “Olhos nos Olhos” (uma das canções que tinha apresentado na edição original do Grande Prémio TV da Canção, em 1964) e versões de Sinatra (“Estranhos Na Noite”) ou de temas de filmes como “My Fair Lady” ou “Música No Coração”. Mas estas e outras canções só tinham até aqui conhecido edição a 45 rotações.

Depois de uma série de EP e de um LP partilhado com Tony de Matos (que recuperava canções estreadas em EPs), “A Voz e os Êxitos” representou a estreia de Simone de Oliveira no formato de LP com um conceito de álbum, ou seja, estas canções não tinham antes surgido em lançamentos a 45 rotações. O disco junta temas criados para a sua voz e inclui uma série de versões, entre as quais célebres abordagens à obra dos Beatles (“Yesterday”) e de Charles Aznavour (“Que C’est Triste Venise”).

Todo o lado A é cantado em português mas na face B encontramos canções em italiano, inglês, francês e espanhol, facto que se pode dever a uma dimensão de visibilidade internacional que Simone conquistara depois de, no ano anterior, ter representado Portugal no Festival da Eurovisão, em Nápoles. A cantora é aqui acompanhada por uma orquestra, estando as canções repartidas entre temas sob direção de Thilo Krasmann, Manuel Viegas e Joaquim Luis Gomes. Os arranjos traduzem por um lado as linhas então em voga na canção ligeira portuguesa, notando-se no lado B uma abertura maior a formas então que marcavam o presente nos universos visitados pelos espaços que convocava nas versões aqui apresentadas.

“A Voz e os Êxitos” teve edição original em 1966 pela Decca. O disco nunca teve edição em CD nem está ainda disponível nas plataformas digitais.

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