Com já longa carreira e relativamente extensa discografia que remonta aos anos 90 e, a solo, com lançamentos frequentes desde o ano 2000, John Vanderslice é mesmo assim um daqueles talentos indie a quem ainda não se deu o merecido reconhecimento. Texto: Nuno Galopim

Como o fizeram vários outros seus contemporâneos em “clima” indie na reta final dos anos 90 e início do novo século, John Vanderslice foi construindo uma obra que sabe juntar a arte da escrita de canções a uma demanda pelas formas finais com que estas se podem apresentar. Alguns talvez se recordem da polémica em tempos gerada pelo seu Bill Gates Must Die (logo na estreia a solo, em 2000)… Muitos conhecem-no mais como o proprietário do Tiny Telephone, um pequeno estúdio (na Califórnia) que foi adoptado por nomes como os Death Cab For Cutie, Okkervil River ou Spoon. Natural da Flórida, onde nasceu em maio de 1967, cresceu no Maryland (para onde a família se mudou quando tinha 11 anos) e foi aí que terminou os estudos universitários com uma formação em… economia, tendo aproveitado a passagem pela universidade para estudar também história da arte. .
Mas, na verdade, a sua obra na música deixa claro que cedo se afastou dessas primeiras eventuais visões de caminhos profissionais como economista ou no ensino (a dada altura chegou a estudar inglês com a ideia de ser um dia professor em vista). Mas a música foi outra, manifestando-se primeiro nos MK Ultra, nos quais militou nos anos 90 e com os quais gravou os seus primeiros discos.
Com a viragem do século apontou azimutes a outros objetivos… e começou a apresentar-se em nome próprio. E em 2007, depois de um conjunto de cinco álbuns nos quais explorou, sem evitar nunca a canção de autor, as potencialidades das cenografia lo-fi (electrónicas incluídas), mostrou-se, ao sexto disco, a que chamou Emerald City, inesperadamente despojado. O foco das atenções recaía sobre um conjunto de canções que, em apenas 38 minutos (o tempo ideal para um álbum, convenhamos), confirmavam então em Vanderslice um magnífico contador de histórias.
O seu álbum de estúdio imediatamente anterior, o igualemente recomendável Pixel Revolt, de 2005, era espaço de reflexão concreta das feridas deixadas pelo 11 de setembro e pelas consequências que os factos desse dia tiveram na vida da América desde então. Sem evitar pontuais incursões pela mesma memória traumática, Emmerald City mostrava, como contraponto, um disco mais pessoal e, na verdade, quase autobiográfico. As canções foram compostas durante um processo, frustrado, e ainda não resolvido, de luta pela obtenção de um visto de residência para a sua namorada, uma francesa.
A arte de Vanderslice, além do evidente domínio de heranças musicais que, além da mesma genética que gerou os Neutral Milk Hotel, revela a presença dos Beatles, Dylan e mesmo Bowie (de quem em 2015 recriou todo o alinhamento de Diamond Dogs), reside numa rara capacidade em sugerir as histórias, lançar as ideias, e sair delas antes de as tornar óbvias.