Jornalista, com importante passagem pelas páginas do jornal e, depois, revista, “Blitz”, rosto também presente no pequeno ecrã, e autora de uma história oral (em dois volumes) dos Xutos & Pontapés, fala-nos hoje da sua coleção de discos.

Qual foi o primeiro disco que compraste?
Confesso que não sei precisar qual foi o primeiro disco que comprei (daqueles à séria, com o meu dinheiro, poupado entre prendas e os primeiros trabalhos em part-time) mas vou, para sempre, recordar a alegria que senti quando saí da loja com o “Diamonds and Pearls”, do Prince.
E o mais recente…
Este é fácil: foi a caixa “To Be Free: The Nina Simone Story”.
O que procuras juntar mais na tua coleção?
Neste momento, o grande objectivo é conseguir reunir, em vinil, aqueles que considero serem os álbuns fundamentais da minha vida. Até tenho uma lista no telemóvel com aqueles que me faltam (para não se repetirem situações em que chego a casa e percebo que acabei de duplicar um determinado disco).
Um disco pelo qual estejas à procura há já algum tempo.
Queria muito juntar o “Blue” da Joni Mitchell à minha colecção – mas ainda não encontrei nenhum exemplar em condições satisfatórias.
Um disco pelo qual esperaste anos até que finalmente o encontraste.
Nunca vou esquecer o ar blasé com que o funcionário de uma loja, em Londres, olhou para mim quando eu quis partilhar esse momento: mas a felicidade (quase pueril) estará para sempre na minha memória. Andei anos à procura da edição em vinil do “The Downward Spiral” – e consegui. Agora, até tenho mais do que uma edição (sim, é verdade, todas as que encontro, se forem diferentes, compro!).
Limite de preço para comprares um disco… Existe? E é quanto?
Acho que não. Ou, pelo menos, ainda não fui confrontada com essa dúvida.
Lojas de eleição em Portugal? E lá fora?
Em Portugal, confesso, não tenho uma loja à qual vá sempre, depende mais da vida do dia-a-dia e da rotina. Se estiver na zona do Chiado, posso ir à Louie Louie mas, se estiver na Baixa, provavelmente, não me esquivo de passar na Carbono. Da mesma forma, se estiver a passar em alguma outra zona e perceber que existe uma loja de discos, entro. Se estiver numa feira e perceber que há uma caixa com vinis, também não resisto… Lá fora, é mais fácil: se estiver em Londres, irei sempre à Sister Ray. Em São Francisco, a Amoeba é ponto obrigatório de passagem.
O teu trabalho com os Xutos & Pontapés fez-te descobrir algumas raridades (discográficas)?
Quando estás a falar de música, é mais engraçado perceber as preferências que os interlocutores têm – não posso dizer que tenha descoberto raridades mas foi divertido perceber as influências que cada um deles trazia. O Gui, por exemplo, está empenhado em mostrar-me muita coisa (ou em confirmar se eu conheço discos que, para ele, são fundamentais) e tanto me pode falar de experiências do David Byrne quanto de projectos pelos quais passou nos anos 1980/90.
Compras discos online?
Muitas vezes. Sempre comprei mas, desde o início da pandemia, essas compras aumentaram exponencialmente.
Que formatos tens representados na coleção?
Os CDs ainda estão em acentuada maioria mas, de há uns anos para cá, a maioria das compras têm sido em vinil. Ah, e, claro, também tenho muitos títulos em formato digital (em repetido).
Os artistas de quem mais discos tens?
Madonna, Nick Cave e Nine Inch Nails. Sim, eu sei, parece um pouco esquizofrénico…
Editoras cujos discos tenhas comprado mesmo sem conhecer os artistas…
Há algumas editoras cujo selo é, imediatamente, garantia de qualidade (podemos falar da 4AD ou da SubPop) mas nunca comprei um disco sobre o qual não soubesse rigorosamente nada.
Uma capa preferida.
A do “10,000 Days”, dos Tool.
Um disco do qual normalmente ninguém gosta e tens como tesouro.
Quando se fala em Nirvana, todos pensam, de imediato, no “Nevermind”, quando, para mim, a grande obra-prima do trio é o “In Utero”. Mas há outro: muita gente só começou a conhecer os Cult a partir do “Love” quando o “Dreamtime” é, provavelmente, o meu álbum preferido da banda.
Como tens arrumados os discos?
Estão todos organizados pela primeira letra do nome (próprio, se for um artista a solo).
Um artista que ainda tenhas por explorar…
Tenho dois, logo à cabeça: Miles Davis e Leonard Cohen. O que tenho – e sei – ainda está muito longe do que pretendo.
Um disco de que antes não gostasses e agora tens entre os preferidos.
“I See You”, dos xx. Recordo-me que a primeira vez que ouvi o disco, pensei “oh, bolas, os xx, agora, estão felizes e isso não me agrada”. Insisti e, hoje, posso dizer que é um dos discos que mais ouvi nos últimos anos.
Se pudesses imaginar uma compilação que tema escolherias e sugere três canções que poderiam figurar no alinhamento.
Claramente, roubava a temática a um título do Nick Cave: murder ballads. Aí, não poderiam faltar o “Hurt”, dos Nine Inch Nails, o “Into My Arms”, do Nick Cave, e o “This Mess We’re In”, da PJ Harvey, com o Thom Yorke.
Há discos que fixam histórias pessoais de quem os compra. Queres partilhar um desses discos e a respetiva história?
Em 2008, o filme “Once” e, em particular, a canção “Falling Slowly”, tinham prendido a minha atenção, porém, não o suficiente para tentar descobrir quem era Glen Hansard. A ponto de, em 2012, quando ele subiu ao palco do Sudoeste, já nem me lembrar de tal nome. Assisti a esse concerto completamente sozinha, mais por obrigação de trabalho do que por verdadeira curiosidade mas o que senti foi uma genuína epifania. No dia seguinte, assim que cheguei a Lisboa, fui comprar “Rhythm and Repose”, o álbum que o irlandês estava a promover na altura. Tornou-se um dos discos mais fundamentais da minha colecção e o que senti naquele concerto vai ficar, para sempre, cravado na minha memória. É incrível quando percebemos que, muitos anos depois, a música ainda nos consegue surpreender (e emocionar e apaixonar) desta forma.
Um disco menos conhecido que recomendes…
Surgiram mergulhados no fenómeno do nu-metal (fosse isso o que fosse) e acabaram por não ter a atenção que deviam: quando preciso de alguma “fúria” ou de um “estímulo extra”, regresso sempre a “L.D.50”, dos Mudvayne. A maioria das pessoas nem sabe quem eles eram mas este disco, com 20 anos, para mim, continua a ter a mesma força que tinha quando foi editado.
