Harold Budd, uma vida entre ecos do minimalismo e as geografias da música ambiental

Desapareceu, aos 84 anos, um dos grandes compositores norte-americanos do nosso tempo, autor de uma obra que conseguiu comunicar com várias famílias da criação musical. Assinou importantes discos com Brian Eno, Daniel Lanois e os Cocteau Twins. Texto: Nuno Galopim

Com um percurso essencialmente definido entre heranças e consequências do minimalismo e um gosto exploratório pelos terrenos da música ambiental e das possibilidades de uma atitude mais contemplativa que a composição podia sugerir, Harold Budd foi autor de uma importante obra que tanto cativou atenções a públicos atentos às vanguardas como seduziu autores e melómanos nos terrenos da música popular.

            Norte-americano, nascido em Los Angeles em 1936, começou por se expressar através de linguagens mais vanguardistas, revelando também alguma curiosidade por alguns caminhos do jazz (que era, de resto, o território das suas primeiras manifestações de interesse pela música).

É contudo na sua estreia discográfica, em 1978, em The Pavillion of Dreams, que define um caminho autoral mais demarcado. Produzido por Brian Eno, o disco tateia caminhos de placidez, muitas vezes na periferia dos silêncios, antecipando um mergulho nos terrenos ainda mais minimalistas e discretos que desenha logo a seguir, em 1980, em Plateaux Of Mirror (o segundo volume da série “ambient”), criado em parceria com Brian Eno ou The Pearl, disco de 1984 que coassina com Daniel Lanois. Em ambos a linguagem que Harold Budd define ao piano torna-se uma das suas mais evidentes marcas autorais desta etapa da sua carreira e que teria como momento de brilho maior o belíssimo White Arcades, disco a solo editado em 1988. Ao mesmo tempo, entre álbuns como Abandoned Cities (1986) ou Lovely Thunder (também de 1986) aprofundou um trabalho que o viu a abordar uma noção mais cenográfica das noções de espaço (e de ambiente).

Numa década de intensa criação e de afirmação de identidade, Harold Budd iniciou igualmente um processo de comunicação com outras linguagens e geografias do som. E em 1986 criava, juntamente com os três elementos dos Cocteau Twins, um álbum em conjunto ao qual chamaram The Moon and The Melodies e pelo qual os caminhos de todos eles se cruzavam num espaço de interesses comuns e de cumplicidades evidentes. A relação com, sobretudo, Robin Guthrie prolongou-se no tempo, gerando muitos outros discos, entre os quais Another Flower (2020), editado há bem pouco tempo.

            A obra (vasta) de Harold Budd envolve vários outros discos que vale a pena (re)descobrir. E entre eles estão títulos como By The Dawn’s Early Light (1991), She’s a Phantom (1994) ou The Room (2003). Além de Robin Guthrie, entre os mais recorrentes colaboradores na sua obra estão ainda nomes como John Foxx, Jah Wobble, Andy Patridge (dos XTC) ou Clive Wright. E a dada altura colaborou com a editora de David Sylvian. Fez trabalho para cinema, como foi o caso da música para Mysterious Skin, de Gregg Araki, na verdade mais uma colaboração com Robin Guthrie. Em meados da primeira década do século XXI retirou-se dos palcos e assinou então alguns concertos de despedida. A pandemia que tomou o mundo em 2020 vez dele mais uma vítima.

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