Os melhores discos de 2020 (2. edições de arquivo)

Continuo apresentar as listas dos melhores de 2020. Hoje falo das edições que nasceram de arquivos. As caixas (e houve muitas e boas) e também os álbuns e compilações, isto sem esquecer as mais simples (mas importantes) reedições. Textos e escolhas: Nuno Galopim

CAIXAS: Prince “Sign O’The Times (Super Deluxe Edition)”

Editado em 1987, o álbum surgiu de uma sucessão de acontecimentos que envolveu a separação dos Revolution e a gravação de três álbuns que ficaram na gaveta. O que aconteceu nesse período (com uma multidão de inéditos) surgiu este ano reunido numa caixa. Mas antes de mergulhar na caixa, vale a pena sublinhar o contexto (macro e micro) em que estas gravações ganham forma. Por um lado há um mundo em ebulição com notícias a dar conta do crescimento de casos de sida, focos de fome, instabilidade política no mapa internacional. Prince também não ficou indiferente perante a notícia da explosão do Challenger num tempo em que a sua vida passou por separações, uma no plano íntimo, outra a dos Revolution. Data ainda deste período a construção de uma casa em Galpin Bloulevard (no subúrbio de Chanhassen, a sudoeste de Minneapolis), na qual instala – na cave – um estúdio que lhe permite gravar a qualquer momento. As instalações não tinham contudo dimensões colossais pelo que, quando gravava com banda, dividiam-se os músicos entre a sala no piso térreo (onde estava o piano), o estúdio e a régie. Nascendo na verdade numa transversal da rua suburbana onde morava, o complexo de Paisley Park inaugura na reta final deste período, havendo na caixa primeiros ecos das gravações ali captadas.

É entre este mapa de convulsões pessoais e globais que emergem os discos que ficam na gaveta – Dream Factory, Camille e Crystal Ball – e Sign O’The Times finalmente editado em 1987. A nova caixa, que junta 8 CD (ou 13 LP na versão em vinil) e um DVD a um livro de 120 páginas da dimensão de um booklet de álbum em vinil (que inclui textos, informação sobre as gravações, reproduções de manuscritos com as letras e muitas fotos inéditas de sessões desta etapa), começa por incluir o alinhamento original de Sign O’The Times com o som remasterizado (CD1 e CD2), juntando num terceiro disco o material dos quatro singles extraídos do álbum – além do tema título foram lançados If Was Your Girlfriend, U Got The Look e I Could Never Take The Place of Your Man – reunindo os edits das edições em sete polegadas, as remisturas lançadas nos máxis e os lados B, entre os quais estão temas poderosos que podiam ter merecido estatuto de lado A como Hot Thing ou Housequake ou outros que surgiram exclusivamente nesses formatos a 45 RPM. O maior tesouro da caixa é a multidão de gravações inéditas que ocupam os CD4, CD5 e CD6 que representam uma incursão no arquivo The Vault, entre as quais encontramos não só temas dos álbuns que ficaram na gaveta neste período e até mesmo outras faixas, ora destinadas a parcerias ora temas que nem sequer foram considerados para quaisquer alinhamentos… Há ainda um par de CD (7 e 8) com o registo em áudio de um concerto da digressão que se seguiu ao lançamento de Sign O’The Times (captado em Utrecht, na Holanda, em julho de 1987). O DVD por sua vez junta o registo de uma noite ao vivo no soundstage no coração do complexo de Pailsey Park numa “festa” a 31 de dezembro de 1987, como que a fechar um ciclo.

Além desta caixa (histórica) de Prince, do panorama de edições em 2020 destaco ainda…

Divine Comedy “Venus, Cupid, Folly and Time – Thirty Years of The Divine Comedy”

Donna Summer “Encore”

Fleetwood Mac “1969 to 1974”

Iggy Pop “The Bowie Years”

Joni Mitchell “Archives – Volume 1 – The Early Years (1963-1967)”

Lou Reed “New York (Deluxe Edition)”

Michael Rother “Solo II”

New Order “Power Corruption and Lies (Definitive Edition)”

Sade “This Far”

ÁLBUNS E COMPILAÇÕES: Miguel Noya “Canciones Intactas”

 Com uma formação que o fez passar pelo Berklee College of Music e o MIT, onde completou estudos nas áreas de Música Eletrónica e Som Digital, o venezuelano Miguel Noya acabou por se fixar em Caracas, talhando uma carreira como professor ao mesmo tempo que foi criando música, começando a editar discos nos anos 80, alguns apenas em formato de cassete, por vezes lançados em modelos de auto-edição.  “Canciónes Intactas” resulta de uma reunião de peças originalmente gravadas na segunda metade dos anos 80. E que correspondem a uma etapa de exploração de possibilidades que integram tanto as primeiras visões ambient levantadas por Brian Eno como as consequências diretas das obras dos primeiros minimalistas. E daí que seja de absoluta relevância a visita às duas partes de Mega Brain Focos que ocupam as faces C e D desta compilação. Peças de duração de 17.30 minutos cada uma, que alargam o sentido contemplativo e o investimento emocional (e envolvente) da repetição para nos fazer mergulhar numa experiência algo transcendental que baralha sentidos de tempo e lugar.  “Canciónes Intactas” é, para quem não conhece a obra de Miguel Noya, um portal de acesso à vontade em descobrir mais. Não apenas na sua obra… Mas entre os demais exploradores que a música eletrónica conheceu fora de Dusseldorf, Colónia, Munique, Paris, Lyon, Sheffield, Detroit, Chicago, Nova Iorque ou outros centros que costumam ser referência mais comum (e correta, claro) quando se quer navegar por entre os caminhos destes

Bryan Ferry “Royal Albert Hall 1974”

Brian Eno “Film Music 1976-20202”

David Bowie “Changes Now Bowie”

David Bowie “Ouvrez Le Chien”

Joni Mitchell “Live at Canterbury House – 1967”

Kruder & Dorfmeister “1995”

Patrick Cowley “Some Funkettes”

Philip Glass “Music in 12 Parts – Concert à Paris 1975”

PJ Harvey “Dry Demos”

REEDIÇÕES: Ryuichi Sakamoto “Left Handed Dream (2LP Special Edition)”

Na base do terceiro álbum a solo de Ryuichi Sakamoto encontramos expressões de curiosidade pela forma da canção pop ocidental (sem procurar mimetismos, mas antes uma assimilação de ideias com vista à expressão de um fruto da sua identidade). Adepto do diálogo e do trabalho em colaboração, chamou a bordo o produtor britânico Robin Scott, os companheiros da Yellow Magic Orchestra (ou seja, Haruomi Hosono, Yukihiro Takahashi e ainda, por aqueles dias, Hideki Matsutake) e também Kaoru Sato (violino), Satoshi Nakamura (saxofone) e o guitarrista norte-americano Adrian Belew. Originalmente editado no Japão em 1981 com o títiulo Hidari Ude No Yume, o álbum conheceu edição internacional no ano seguinte com o título em inglês Left Handed Dream. O alinhamento era, porém, modificado face ao original, sacrificando duas faixas e usando três outras numa versão cantada em inglês. A edição de Hidari Ude No Yume que agora é apresentada não só recupera o álbum na sua expressão original, como junta, num disco extra, uma versão instrumental do álbum, até aqui inédita. Quase 40 anos depois vale a pena (re)encontrar um disco que merece ser referido entre os melhores da primeira geração da pop eletrónica.

Boys Next Door “Door Door” (vinil RSD)

Ceramic Hello “The Absence of a Canary” (vinil)

France Gall “1968” (vinil)

Jansen Barbieri Karn “Playng In a Room With People” (vinil RSD)

Martin Denny “Exotic Moog” (vinil RSD)

Pale Saints “The Comforts Of Madness – 30th Aniversary Remaster” (vinil e CD)

Prince “The Rainbow Children” (vinil e CD)

Trio Ternura “Trio Ternura” (vinil)

Visage “Fade To Grey – The Singles Collection / Special Dance Mix Album” (CD)

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